segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Praça Rural



PRAÇA E CAMPO - SEMENTES DE INCLUSÃO SOCIAL
            Quero construir praças no campo. Uma idéia que não tiro da cabeça na solidão que vivo na fazenda, sem outra opção que a televisão, a internet, os livros. Outros também sentem essa falta. A exclusão social nos alcança. Necessitamos do contato humano, de conversas, de negócios, de festas nossas não de sua representação. Alerto os governantes. Não se trata de problema orçamentário, mas existencial.
Li sobre a Demografia, os seus conceitos, as suas leis. Não em profundidade, devo esclarecer, mas o suficiente para assenhorear-me dos seus princípios básicos. E nas reflexões sobre a verificação de sua validade, descortino, ou melhor, assisto e participo da grande mobilidade que determina a situação atual das populações quanto à nacionalidade, naturalidade e sua fixação. O desenvolvimento das relações sociais que criaram a conjuntura atual foge à regra da evolução racional, diria razoável, submetida sempre e determinada, pela influência ou imposição de regras determinadas pelo Senhor Mercado Neoliberal. O Estado Global que conhecemos nada mais é do que o “Estado Mínimo”, reduzidos o seu tamanho e poder de decisão à simples formalidade da sua ação. Vale o Mercado Global fukuyamiano. Esta é a grande verdade. A história o comprova desde o êxodo bíblico às remoções populacionais estalinistas. A invasão das áreas desenvolvidas economicamente, ou litorâneas, pelas populações pobres em todos os lugares, na Europa e nos Estado Unidos principalmente, e falando do nosso país, o exemplo de São Paulo e outros estados do Sul, vêm a calhar. Por outro lado, a pilhagem de bens materiais e culturais pelos centros mais poderosos, leva à penúria imensas áreas da terra, a perda da identidade de nações, a um destino errático, em diásporas que se repetem. O campo é sempre a vítima. Até aqui na pequenina Paraíba, na cidade de Pombal, a população inteira de um distrito, ali residente, distante apenas trinta quilômetros da sede do município, foi condenada a perder todos os serviços públicos que ali funcionavam, e teve de aceitar a transferência do seu domicílio eleitoral ex-oficio, na marra, por uma questão de economia das finanças públicas: menor despesa com a construção de estradas, com a instalação de equipamentos burocráticos e seus serviços.  
Tento explanar, nestas considerações, algo a propósito do isolamento quase absoluto a que estão submetidas pessoas que ainda vivem no campo no nosso país, por escolha ou vítimas de coerção, de um dissimulado constrangimento. Tal fato levou os agentes do Mercado à criação de um novo ramo do direito chancelado por organismo público (UNICEF) o “direito à cidade”, explicitado em painéis com metas específicas, em São Paulo e no Rio de Janeiro a propósito de direitos da criança. Puro favorecimento da atividade mercantil, concentrando a exposição e comercialização dos produtos sem maiores procedimentos ou despesas. Barateamento da prática, aumento do lucro. Nada sequer parecido faz o Mercado em relação ao meio rural. Senão macaqueações exaltando um comportamento algo primitivo e atrasado, destruindo um passado inteiro de experiências de vida. Chamo a atenção dos pensadores do novo mundo, para o fato de que ainda vivem moradores no campo, que lá se reúnem para negócios e para o lazer, para as atividades lúdicas. E são pessoas. E que a noção de “praça” não se restringe à planta arquitetônico-urbanística exclusivamente, de um espaço no seu traçado, para uso na cidade. É preciso criar praças rurais. Quero criar praças rurais. Serão expressões de uma realidade cuja vivência nada pode reproduzir, apenas estimular parcerias vivenciais na indústria, na arte. O processo produtivo agrícola e pecuário, as festas votivas, as gestas que fizeram nascer a agilidade da poesia, do cordel, são frutos da vida campestre, impossível encontrá-las na cidade.  Desaparecerão sem referências apropriadas à sua natureza e origem.  Somente as praças rurais as salvarão.
 Cientistas e intelectuais sofrem assustados os efeitos da perda da tranqüilidade e pela insegurança que domina a vida social em todo o planeta. Classes, castas, religiões, crendices, seitas se entrechocam no ambiente social urbano, levando a explosões fratricidas. É a submissão ao Mercado. A ciência e a técnica permitem a produção de bens e serviços, até a ameaça de exaustão do produto explorado, industrializado e do ambiente natural. A cultura, esta, criminosamente perde a noção de sua cristalização em tradição e costume. Tudo vale como mero folguedo. E esta riqueza resta inutilizada, perdida em estoques guardados com segurança, ou abandonados ao relento, e em projetos anotados em livros volumosos nas estantes, na memória dos computadores. Criação de mitos inconcebíveis numa sociedade justa. E é precisamente esta sociedade justa que eles tentam inviabilizar. Esquecemos a significação do que chamamos parcerias: a divisão, a distribuição do produto fruto da experiência local para universalizar o consumo. Falo de parcerias mesmo no exato significado da palavra: troca. Transferência simultânea de experiências. `As vezes tão aparentemente desnecessárias, como levar apresentações do Festival de Inverno de Campos do Jordão para São Paulo, apenas por uma vaidosa concepção da   visibilidade do trabalho dos que o fazem, cujo mérito deve ser reconhecido como de grande valor social, para eles lá em Campos do Jordão. 

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