Comentando
Chico Pinto (blog do Tião 24-4-2012)
Oportuno
o seu comentário, de modo especial pelas denúncias sobre o oportunismo do
governo e dos que o criticam, neste momento que antecede eleições gerais no
país. O que acontece é que o governo se tornou refém dos projetos sociais de
redistribuição de renda, e inclusão a qualquer pre-texto para grupos
selecionados da coletividade. Tudo em função do voto. Esta verdade foi tratada na
literatura, no teatro do absurdo. Camus denun-ciou que a população estava reduzida
a duas categorias de cidadãos: os que portavam distintivos do governo e os que
não o usavam. No caso as "bol-sas", a "inclusão" e outros
benefícios estendidos aos escolhidos, como seguro safra sem plantar um grão,
etc. Assim podiam saber quem era a favor e contra o poder, desde que constasse
ou não o seu nome como beneficiário dos mencionados projetos. A seca, no
passado, representava a morte pela fome e hoje não assusta, porque todos contam com rendi-mentos para o
sustento da família. Pouco? É verdade. Mas o suficiente para recusarem a oferta
de trabalho assalariado. O tempo é de ajuda, trabalho não, argumenta o
professor Caetano secretário municipal em Sousa. Emprego somente
com salário e direitos assegurados. Saúde e educação são garantidos na rede oficial
de serviços. E a cidadania fala alto. "Não tem médico e remédio? Falta
professor? Vou ao Ministério Público denunciar estes administradores corruptos."
Hoje o povo grita sem medo, se orgulha como titular de direitos, não de
obrigações. Algo assim como os adeptos dos evangélicos, antes analfabetos, que
se orgulham da leitura da Bíblia sem entender o que lêem, porém na vaidade de
manter um livro aberto e demonstrar que o pode ler. Mesmo sem alcançar a
significação de palavras como "faraós", "profetas", etc,
elas lhes falam de algo transcendental, histórico, dá prestígio falar neles,
porque os seus familiares e conhecidos jamais o fizeram.
Comentando
Tião (blog do Tião 26-4-2012)
Esse
é o clima que rola aqui no sertão onde moro. Ninguém fala em chuva, em seca, em inverno. Dá pra
aceditar que seca nunca existiu. Existia fome isto sim. Ontem cerca de oito
horas da manhã, vi o operador de uma retro-escavadeira com vidros escuros, ar
condicionado, cavando no leito de uma estrada em construção. O
transito ficou parado por uns instantes e formou-se uma aglomeração de 32
homens que eu contei com cuidado, sem falar em algumas crianças e mulheres.
Fácil de explicar o ajuntamento: todos estavam de barriga cheia beneficiários
de cestas básicas, seguro safra, cuscuz, leite e pão que recebem todos os dias,
e ainda a bolsa família a aposentadoria. Cidadania, porque emprego não existe,
e hoje, os novos sujeitos sociais não discutem tarefas, mas salário e horas
semanais, folgas, férias, vale refeição, fgts, etc. E somos a sexta economia do
mundo e por consequência a sexta contribuição de juros para a banca financeira
inter-nacional que arrecada e leva à inanição sociedades ditas evoluídas como a
européia. Guardo receios quanto a nossa situação de país, de povo de nação. O
medo que tenho fundamenta-se na advertência do Gonzagão no seu forró
sensacional: "Doutor uma esmola dada ao homem que é são, ou lhe mata de
vergonha ou vicia o cidadão.” Aí estará tudo perdido. E nada de chuva. Mas
falam em dinheiro grosso para os “atingidos”, a começar com a novidade da “bolsa
estiagem”. Essa gente sabe como tanger o problema com a barriga. Fracasso para
o governo que virá, não para agora, esta é a grande tese motivadora das ações. Brecht
na “ópera dos três vinténs” advertiu que qualquer discussão em nível popular,
coletivo tem que começar com alimentação. A fome é má conselheira. O vício também,
no caso vício de acreditar que “vem ajuda por aí”. Trabalho em obras públicas,
quer de conservação, construção ou reconstrução, é coisa do passado. Vivemos a
democracia das eleições. Por esta razão novas inclusões são anunciadas todos os
dias. Dá pra pensar que chegará o dia da exclusão de alguns, porque todos forma
incluídos. A qualquer pretexto.