domingo, 6 de outubro de 2013

POESIA, ACADEMIA, LIBIDO.



QUATRO ACADÊMICOS. POETAS PARAIBANOS ALGO ERÓTICOS.
 UNS MAIS OUTROS MENOS

            Falando de literatura, de poesia, considero indispensável que um verso, alguma palavra recorrente marquem o tempo, a práxis do poeta – tempo concreto na política, vistas em Maiakovski, em Castro Alves, na arte, a temporaneidade, não o termo meramente explicativo do conhecimento, que sofre múltiplas achegas críticas e filosóficas.  Analogias.  Outras faces da vida sobressaem irrelevantes na técnica literária escolhida – postais, caricaturas que aproximam ou escondem a sua identidade, como uma máscara. Algo, podemos dizer, no estilo “Frufru Rataplã Dolores” de Dalton Trevisan, sem explicação ideológica, psicológica, lingüística nem literária que justifiquem tal título e seu conteúdo, como social, expressão criativa do homem, o que acontece com o autor  e vem longe, quanto ao estilo, sem seguidores.  A não ser de determinado homem, absconso numa manifestação qualquer do ser, também absconso na ciência. Equivale dizer nada de nada. Nem sempre “versos anacrônicos da militância tardia” no dizer de Wilson Martins a propósito do reingresso “de Bruno Tolentino na vida literária com versos e debates altissonantes.
Mas estes poetas que nomeio, curto o seu lirismo apaixonante:  Ascendino Leite, Damião Cavalcanti,  Sérgio Castro Pinto  e  Hildeberto Barbosa. Têm “pano pra man-ga”, como falava a minha mãe vaidosamente antegozando o brilho do seu traje-rigor, cercada de modistas sertanejas na máquina de costura. A língua, exemplificando vira algo empedernido, histórico como explica o citado polemista e concluí nas minhas leituras. O caso da libido nas letras de ficção. Semelha uma doença crônica. Há casos.
1  -      DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI.  Começo com o espantoso título do seu livro de poesia “Ausência do Tempo”. Ora, o tempo existe em nós que o medimos, referendamos, sempre o tempo, mesmo negado como o faz o poeta Damião. Em que sentido ele fala de “ausência do tempo”?  Simples jogo de palavras, parece.  Ele mostra, entretanto, para ilustrar a sua tese, nos prefácios e em citações críticas, o prestigio de sua obra. Trata-se, assim entendi, depois da leitura, de uma escapatória dos seus pecados; de poética allighieriana, medieva, no gosto da descrição e julgamento do mundo, mostrado em círculos e versos – o orbe condenado pelo comportamento pecaminoso dos seus habitantes, a memória contida nas paisagens de cismas e desejos.
            Damião decreta sentenças. Ele sabe o que faz e porque o faz. Recomenda-lhe o nome, a profundidade filosófica dos poemas, o prefácio de Jackson Carvalho, presidente da Academia Paraibana de Filosofia. Aligeirando a temática de textos, pretensamente excludentes do tempo nos seus pensamentos, reflexões e impulsos criativos na poesia, na literatura, o poeta usa o encantamento da sabedoria em versos. E o seu reco-nhecimento  no estrangeiro, noutros Estados do nosso país, é devidamente transcrito, identificado. O que ele alude, foge do “tempo literário”, cruelmente nos incompatibiliza com a literatura, que é, e não é, expressão da vida, do mundo dos homens:  na verda-    de qualquer coisa, não direi especiosa, mas qualquer coisa sua. No domínio de metáforas nascidas de fatos, como não pode deixar de ser, meramente temporais, constrói um itinerário de rotas e nominalismos.  Deixa o título do livro para trás. A pretensão do eterno, não invalida a sua poesia, reforça-a, assim reconheço, feita de resultados escolhidos, alinhados, figurações em palavras, paisagens não vistas mas imaginadas, que permitem julgá-lo. Eva, Eros, “árvores mulheres”. A libido espicaçada repetidamente exteriorizando-se, ou apresentada e protegida por fantasiosas máscaras venezianas carnavalescas de sabedoria, de conhecimentos acumulados.
                 Damião é um escritor de verdades e incursões preconcebidas no mundo da arte literária, cuja linguagem escorreita, assinalada pelo citado Jackson Carvalho, dife-rentemente  de  Camões, Pessoa, Elliot, Whitman, Beaudelaire, acredito, produz o seu verso multifacetado. Machado de Assis assim o fez, na criatividade da inteligência, e não simpatizo tal recurso. Porque a poesia, acho, vem de dentro, nasce com regras, normas e forma prosódica originais, apropriadas, limitadas e belas como na cristalografia. É justo perguntar: onde encontrar tais regras?  Respondo que as encontrei na leitura de Homero, Camões, Cervantes e outros centrados na compreensão do homem e da vida no espaço e no tempo. A linguagem não corre como a água tranqüila nas planícies, nem cai turbulenta nas escarpas e penedias: ela é o seu tempo, o seu ambiente. Assim a literatura.
Nada de caverna de Platão. A poesia de Damião tem muito de um lago  de águas profundas represadas, até insondáveis. Não me proponho nem aconselho im-provisações, mas entendo que muito ajudaria para a compreensão da poética de Damião Ramos Cavalcanti, o reestudo sobre o tempo de Bergson, dos princípios da sua velha amiga escolástica, nomenclatura sexual de desejos incontidos. Ajudaria a leitura de “Os Mortos de Sobrecasaca” do nosso Álvaro Lins, algo de Otto Maria Carpeaux sobre o fazer literário, e a estética poundiana da “épica sem assunto”, de sua teoria da literatura consagrada academicamente no ABC OF READING, como qualificadora no com-cernente  a autores. Ou uma visita à sua biografia, não enfeixada em livro porque faz parte da história que está sendo escrita agora. Muita coisa? É tudo.
Parabenizo Damião pelo seu poetar, nos versos deste livro e na prosa de sua crônica semanal na internet. Deixa o que outros não deixaram: a palavra es-clarecedora ressumando cheiro pedagógico de sala de aula fechada, de professor mais ligado na sua matéria do que no interesse dos alunos. (continua)

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