BRÁULIO TAVARES E O CALEIDOSCÓPIO – Notas da fazenda
O Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Sousa, que freqüento sema-nalmente
sempre que visito a cidade, e a que me refiro seguidamente, existe para mim,
permitam a metáfora, como um calidoscópio pela variedade e atrativa beleza de
sugestões visuais e espirituais que me provoca. Lá está editado o Brasil
inteiro. E a Paraíba e o Nordeste de maneira especial. Encontro sempre
paraibanos: recentemente Raul Córdula, Flávio Tavares, Linduarte Noronha,
Wladimir Carvalho, Wills Leal e Bráulio Tavares entre tantos. Ali aparecem
todos em mostras coletivas de quadros, livros e documentários gravados em fita
e em DVD. Bráulio
trata, preferencialmente, sobre aspectos da cultura regional-nordestina – de
modo especial os repentistas e cordelistas famosos de ontem e de hoje, até na
sua invasão da literatura erudita ou clássica, e cito Zé Vieira e Ariano
Suassuna, entre outros exemplos. Trata-se, assim acredito, de uma ontologia
determinada historicamente, como exigem os modernos marxistas “desvelando as
lutas de classes encobertas nos produtos midiáticos” (Fredric Jameson, apud Ruy
Braga CULT edição especial 2010 -, Robert Kurz, CRÍTICA RADICAL, Fortaleza –
Ce, São Paulo 2004/2007) porque tudo vem do passado – e diz-se agora
pós-moderno para impressionar. É o espírito do extraordinário que alimenta os
arremessos.
*
Desculpem-me os prováveis visitadores deste meu blog:
eilzomatos.zip.net, a insistência das minhas referências, mas ali encontro a
memória literária, cultural, construída nos últimos setenta anos que vivi,
folheando, lendo livros infantis na minha casa, que o meu pai cultivava o
hábito da leitura, e nos presenteava com opúsculos e revistas; depois, a
biblioteca do Grupo Escolar Batista Leite onde estudei, mostrava muitos livros
numa pequena estante, que nos permitiam tomá-los por empréstimo para leitura.
Seguiram-se outros centros culturais, bibliotecas a partir da municipal
Humberto de Campos, em Sousa, às da Faculdade de Direito do Recife, e monumen- tais
acervos bibliográficos, acessíveis ao público aqui na Paraíba e em Pernambuco,
e outras e outras. Quanto ao Centro Cultural do Banco do Nordeste, em Sousa, em
edi-fício arquitetonicamente desenhado para sua destinação, concorre um número
de servidores capacitados que nos ajudam e orientam sobre as nossas pesquisas,
sob a direção de Ogna, gestora competente e cordial.
Pois bem, dos anos quarenta aos setenta circulei por esses espaços,
haurindo os eflúvios que me marcaram a personalidade, o caráter indagador dado
também a conceituações e explicações dogmáticas sobre os meus pensamentos e
reflexões. Per-lustrei todos os mundos, todas as civilizações, tornei-me o
homem que sou com a minha concepção da vida e da sociedade fundada no materialismo
histórico e dialético. Assumi, por tal razão, posições inarredáveis na
atividade política e social. Pois tudo isto, muita coisa quase esquecida,
inalcançável, guardada no fundo da memória, reencontrei, redescobri nas salas e
auditórios do Centro Cultural Banco do Nordeste. A imprensa diária estadual e
local é disponibilizada, lançamentos editoriais recentes, represen-tativos do
pensamento nacional e internacional, em jornais, livros e revistas infor-mativas
de circulação nacional, outras especializadas; enciclopédias e dicionários
revelam a cultura artística e lingüística buscada nas pesquisas, reedições
integrais comentadas e anotadas dos grandes nomes das letras brasileiras e
estrangeiras, mostras de artes plásticas, apresentação de bandas musicais,
danças e cantos populares. Um mundo completo para mim – uma universidade aberta
para todos.
*
Na minha opinião – pois a tanto fui levado –, o cordel formou na
infância o meu espírito perquiridor e romântico, assim o de Bráulio Tavares na
sua atividade litero-jornalística, acredito, oferecendo-lhe a visão erudita de
temas da literatura popular neste “Contos Obscuros de Edgar Alan Poe”(Casa da
Palavra, Rio de Janeiro 2010) que se intercomunicam estética e linearmente. Daí
a minha alegria e natural satisfação com a programação cultural dos agentes do
governo, em vasta e difundida ação mostrada nos “pontos de cultura”, nos centros
culturais mantidos por empresas públicas como Banco do Brasil, Banco do
Nordeste e Caixa Econômica Federal, oferecendo uma oportunidade eficiente para
resgatar a integridade da memória do país no campo da arte, da literatura.
Pena que o corrupto FHC tenha negociado em termos pessoais e desviado, o
patrocínio da Vale do Rio Doce, e da Petrobrás ferida na sua constituição de
empresa estatal com a modificação dos seus Estatutos, sem falar nas
distribuidoras de energia elétrica, nas telefônicas, nos bancos e mais
organizações, inviabilizando até o patrocínio de sua inestimável atuação
cultural. Mas há um lugar reservado na galeria dos trai-dores da pátria para
pendurar o seu retrato. Este o prêmio que lhe cabe. A nossa atividade cultural
na área artística ressente-se, esta carência de apoio reflete-se também na
prática do esporte o que fica demonstrando no fracasso da participação do
Brasil nas Olimpíadas de Londres 2012.
Mas restou a inteligência e o patriotismo de cidadãos como Bráulio, para
revelar a vida brasileira no contexto dos grandes temas da literatura
imaginativa dois séculos depois, renovada nos temas de um autor de dois séculos
atrás – Edgar Alan Poe – que remeto para as histórias fruto da imaginação
popular também pioneira nos temas de amor, terror, ficção científica, maldade,
tragédias, espertezas, das histórias e contos populares do Brasil, recolhidos
por Câmara Cascudo e que muitas escutei quando criança, de “contadeiras de
histórias” na hora de dormir.
Pois tudo muito bem. Bráulio me devolveu Álvares de Azevedo nas
narrativas de Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann de suas
aventuras românticas, trazidas para a literatura brasileira com epígrafe de
Poe; a nossa vida na expectativa de histórias fantásticas de encantamentos,
animais desconhecidos, demônios, vaqueiros destemidos, e a nave transfigurada
no Pavão Misterioso “que levantou vôo da Grécia/ Com um rapaz corajoso/
Raptando uma condessa/ Filha de um Conde orgulhoso”.
Dá pra perceber a significação deste serviço de apoio à cultura,
aplaudir os dirigentes do Banco do Nordeste que financia e administra a sua
atividade, e nos traz o Bráulio Tavares especialista em Ariano Suassuna,
que ofereceu roteiro e meios para realização pela TV Globo do monumental “Pedra
do Reino” que despertou a admiração do próprio autor, Ariano.
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