sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Coronel Zé Vieira e Ricardo Blck Bloc

O CORONEL ZÉ VIEIRA E RICARDO BOCA TORTA
Gosto de tudo que Tião Lucena escreve pela leveza − também animação −, e precisão do seu estilo. Diz o que sabe e não esconde o que quer dizer. Igualmente sou fã da advocacia do conterrâneo Johnson (lembre-se que o Lastro é Sousa, uma costela tirada pela política). Tião faz o que faz por profissio-nalismo, formado na escola do grande Frutuoso Chaves; quanto a Johnson pratica advocacia vip, dos figurões, dos famosos como o saudoso falecido Saulo Ramos. Ele pode. De Zé Vieira a Ricardo Coutinho transita a sua inteligência, a sua pena. É po-derosa a pena de Johnson, igual ao testimonium flavianum. Algo de Judas e do apóstolo Pedro que traíram e negaram Jesus, e mesmo assim foram santificados, tornaram-se figuras históricas mercê da iluminada caridade e capacidade de perdoar que fundamenta a essência do cristianismo. Compare o leitor o hoje coronel Zé Vieira de Marizópolis, ex-operário partidário dos Ga-delha, réu em dezenas de ações e procedimentos policiais, judiciais, e o desabusado grevista da UFPB, bandeirista do PT Ricardo Coutinho, réu como o primeiro no dobro ou no quádruplo de iguais apurações de ações criminosas, então veremos que a fortuna de Johnson é legal. Não teme apuração do Leão do Imposto de Renda. É fruto de rendimento profissional legítimo, mesmo saindo dos cofres da prefeitura e de Estado para be-neficiar o coronel ou incensar o fraudulento Ricardo Boca Torta. O coronel, não sei até onde chegará que os marizopolenses o odeiam e adoram; quanto ao lagostista da granja santana, Ricardo, turista ao lado da mulher, ou sozinhos, na base de avião do governo, não vai longe. Queimador de expediente e dilapidador do patrimônio público, ex-black bloc Ricardo Em-baidor, este, dada a sua pretensão de estadista, o seu destino é o lixo da história. Não tem como evitar. Certeza. Zé Vieira é fichinha, Boca Torta é o Ali Babá comandando os quarenta ladrões. Topam avaliar?
Ah! Infelizmente urubus de mau agouro pousaram na sorte de Marizópolis e da Paraíba.
(4 fotos)

terça-feira, 8 de outubro de 2013

NOVOS SUJEITOS SOCIAIS



NOVOS SUJEITOS SOCIAIS.
            Um comentário usado como legenda ou epígrafe do meu blog PROSA CAÓTICA – eilzopb.blogspot.com.br, eilzomatos.zip.net, decidi repetir aqui a sua publicação, para conhecimento dos freqüentadores dos meus textos no citado blog, no facebook e no twitter  para os que ainda não os conhece. De antemão, deixo claro que sei do limitado número de acessos às minha notas, dada a minha incontornável forma de aludir e re-ferir fatos com respeito à sua comprovação, veracidade, fontes onde os recolhi, sem negociar no sentido do toma lá dá cá. Mas insisto sem outra pretensão, que a de colaborar com os movimentos e forças que defendem com patriotismo as questões relativas ao desenvolvimento econômico e social e a soberania do país.
NOVOS TEMPOS, NOVOS SUJEITOS SOCIAIS, AS MARCHAS
“O governo está assustado. Sobram empregos: do escalão técnico superior ao nível modesto do ajudante. Protesto silencioso? Desobediência civil? ´Nós avançamos um pouco´, esclarece Tasso Genro, responsável pela criação dos novos sujeitos sociais, e adverte: ´São pessoas que jamais aceitarão ficar à margem de um processo de demanda´.  A reivindicação agora é salarial, remuneratória, restauradora de estatutos e direitos sociais, revogados pelo Mercado que domina o Estado Mínimo. Aí estão as greves, as marchas, os movimentos sociais que o comprovam.”
Os espertos que freqüentam restaurante de luxo, que fazem turismo no estrangeiro, usam automóveis e roupas vip, top de linha me contestarão, porque se sentem ameaçados nos privilégios que desfrutam. Também gosto do que é melhor, sem esquecer, todavia, que tenho uma pátria e uma população de irmãos que reclamam solidariedade.  Conforta-me o desabafo de Darcy Ribeiro, quando falava que lutou por  uma universidade pública de livre acesso para todos  e voltada para o conhecimento, pelo direito dos índios, pela defesa da soberania, da independência econômica e cultural do país e foi derrotado. Mas não aceitaria ficar do lado dos que venceram.
Na verdade beirando os oitenta sinto-me bem, não me arrependo de posições tomadas e atos praticados ao longo de minha vida. Gosto de dizer: Tenho defeitos? Quem não os tem! Mas a cada momento a sociedade revela-se no caminho do entrechoque de idéias. Escolho o meu lado, orientado pelo que considero nota do humanismo de minha formação intelectual cristã, voltado para o interesse da co-         letividade, para o desenvolvimento do país e o bem estar geral de sua população.
Facil de dizer? Também de fazer. Experimentem. A História nos julgará.

domingo, 6 de outubro de 2013

ACADÊMICOS POETAS


(Acadêmicos Poetas - continuação)
4     -     EZRA POUND E HILDEBERTO BARBOSA
Sessenta e oito anos de empenho foi quanto levou a composição do “CANTOS” de Ezra Pound (Nova Froneira 2012), ele o afirma, e também contam os biógrafos e estudiosos de sua extensíssima obra literária. Não me proponho tiradas de sua vida de polígrafo, somente algumas breves referências, e registros dos historiadores e críticos da literatura. E colocá-lo ao lado do poeta paraibano Hildeberto Barbosa Filho. Avulta neste mister, atenção às anotações de fatos sucessivos e curiosos da controvertida personalidade intelectual do primeiro, que dominou a poética do século XX, traçan-    do novos rumos e construindo, na expressão de Hugh Kenner  “uma épica sem enredo”. As considerações alinhadas, propõem-se chamar também a atenção, igualmente, para a construção da obra poética do paraibano, com o lançamento do seu “NEM MORRER É REMÉDIO, Poesia Reunida” (Ideia, Pb 2012), um misto de lirismo e épica apo-tegmáticas. Poeta completo, cuja poesia quer ser apenas poesia, sem significado encoberto em títulos e representações. Tão jovem ainda e já tem lar, conta no banco, biblioteca, paisagens, lembranças, amores, passado, tradição. 
            Os comentários aqui reunidos, simplesmente são visões breves, sem erudição e desenvolvimento necessários, para tese tão abrangente e ao mesmo tempo indutora no campo da crítica e teoria da literatura.  Hildeberto, entretanto, isso quero dizer: não é nem será um anônimo intelectual, um suicida das letras.  Pelo contrário, prende-se ao propósito de perpetuador da vida, porque, afinal, a manifestação maior de sua consciência é a antenada e inextinguível expressão do texto literário, que se propõe via e leito da crônica humana, como um ato da criação que se prende na eternidade. 
TS Eliot explicou-se: “com tais fragmentos foi que escorei as minhas ruínas, pois então vos conforto”. Mas Hildeberto  não falaria em ruínas, certamente o faria sobre arquétipos monumentais, da natureza humana em versos prosaicos ou, marcos para duração que se perderia no tempo, indestrutíveis, inapagáveis. A poesia tem essa força de criadora de mitos, de inspiradora de modos e modelos grandiosos.
 Acho interessante e curioso o sentimento pedagógico que está pre-sente na poética de Pound, na absorção e composição de palavras e textos em línguas estrangeiras, nos ideogramas chineses, no cavalheirismo e na ética provençal. Um cuidadoso mestre-escola, chega a parecer. São falas e comportamentos que ditam datas históricas. É um monumento literário descritivo de avaliações e julgamentos, como se fossem tirados da contabilidade de um banco, realidade tão recorrente na sua familiar crítica às construções financeiras, erguidas até ao relento e através de pilhagens sobre cadáveres insepultos pisoteados.
               Em poesia a forma é aglutinativa de sentimentos e palavras. Eis o que poderia ser considerado um axioma poundiano, envolvendo o ideograma e o metrômeno. Sempre ela a palavra, o Verbo, inscrito na voz dos poetas. Pound é mais narrativo, comparativo, exuberante: sabe do histórico e do eventual, do político, do brado e do silêncio;    Hildeberto,  registrando até minudências intemporais, a sua vida, que é a de todos, debruçado talvez  na  mesa de uma estalagem maldita, tocan-do a face nas tábuas úmidas e gordurentas, copia um atribulado personagem de Conrad.  Romantismo? Não sei. Cientismo, pode ser, que se depreende da escolha de um terceto do “Budismo Moderno” de Augusto dos Anjos, como epígrafe para o seu livro em questão. Nos dois o “espetáculo do amor em vastas e acesas clarabóias”.
              Inacreditável e legendário já se mostra, o fazer literário de Hilde-berto,  que descobre  o “orgasmo das pedras” lavadas pelas águas em turvas imagens, de assaz insondáveis grutas − os escaninhos da vida reprodutiva, orgânica e inor-gânica, por contato, metamorfose. As grandes questões, os movimentos e momentos ditos imperceptíveis, se interpenetram na sua poesia como termos de uma equação sem incógnitas, O fascinante momento da submissão de elementos quânticos ondulatórios, à irresistível doçura do lirismo feito em palavras. O desenrolar da vida marcando situações humanas, reduzindo-a aos ínvios circuitos do destino, à metá-fora do rio, que reproduz coisas assim, de primitivas e gigantescas abduções, consu-madas nas fraudes e nas seduções. Afinal disso vivemos e disso somente  tratamos.
 Não foi por acaso, que Monsieur Jourdain descobriu, que durante toda a sua vida, sem o saber, dialogava e argumentava em prosa. Os poetas, também sensíveis criaturas do povo, conhecem este procedimento. Pessoas com a mente em perpétuo movimento aglutinativo ditam conclusões, criam conceitos, propõem regras. Aludem a questões acima de vultos e personagens eruditos e prosaicos, clássicos e ordinários. A sede de álcool de Hildeberto, leva ao delírio – mera psicopatia – e equivale ao equívoco ético-político de Pound, aderindo ao fascismo, mero estado d´alma. Fogem do seu mister, não criam versos exemplares, que preparam  o cerimonial da própria morte, como acentuaria Rainer Maria Rilke.  ---------------------------------

ACADÊMICOS POETAS


Acadêmicos Poetas - continuação
2     -   ASCENDINO LEITE – POESIA REUNIDA (O VAQUEIRO “PRACIANTE”, SEM CAVALO, ESPORAS E GIBÃO).
Ignoro se Ascendino Leite foi ou não aluno interno em seminário, em convento católico. Caso afirmativo, explicar-se-ia a sua condição de presa da libido, presente nos seus versos, numa forma de reação natural, talvez tardia ao isolamento forçado, à clausura.
Homem de letras, jornalista, Ascendino freqüentou os círculos da agitada e esnobe vida social e política, os “circuitos” mais afamados da elite no Rio de Janeiro, então capital do país. E nesses ambientes alegres ou não, a palavra de ordem em qualquer tom era o prazer, o sexo, com e sem dissimulação. Esta a razão inspiradora dos seus versos, acredito, que levou o seu prefaciador Ivo Barroso a escrever: “Perpassa por todo o livro um erotismo sadio... de um ineditismo impossível depois do Kama Sutra.” Por seu turno  Hildeberto Barbosa vê a sua poesia  reunida  “...como um pequeno tratado dos sentidos, por onde trespassa o desejo como força regeneradora da vida.” Agrado. De minha parte, sem ofensa pessoal, mas com o respeito que lhe devo, como parente e escritor, nada melhor para fazer, nos anos finais de sua vida (depois dos oitenta), do que definir, escolher este como  objeto e destino para sua poética. Um ato de coragem, ou dissimulação de amores impossíveis, negados. Nada mais lhe resta, ele sabe.
Entristeceu-me, é duro dizer, a leitura da “POESIA REUNIDA” do paraibano de Conceição de Piancó, por lá não encontrá-los: ele, a cidade, a paisagem e as pessoas, só desenhos ressentidos porque saudosos. Falo em hábitos, costumes, relevo geográfico, coletividade, urbanização, genericamente, sobretudo da consciência, dos ali nascidos e que ali se fizeram naturalmente: as plantas, os bichos, as pedras, a água, o sol, a lua, as estrelas e o vento. Sabia-o telúrico, cangaceiral, encontrei-o, entretanto, reservado, polido, exercendo funções relevantes, administrativas, cartoriais, como outros  conterrâneos, dignos, de tempo mais recuado, e destaco Nicolau Rodrigues de França Leite e José Siqueira, regendo cátedras e filarmônicas, admirados e aplaudidos nas Américas, inclusive na Europa.
Essa questão de cultura e erudição, do clássico e do popular, pesa forte na consciência dos letrados, que, como tal, revelam-se entes sociais cuja formação os tipifica no proceder, na integração psico-material que os reúne em coletividades como as bactérias e como as pessoas. Criam escolas, estilos na divulgação dos escritos, no seu comportamento, como as abelhas, as aranhas, enfim. Sempre um estilo. Literatura não é régua e compasso, mas espaço e signos ideográficos, lingüísticos, palavras e fidelidade e sentimento. 
 Ascendino, leitor compulsivo de autores nacionais e estrangeiros, tradutor, brilhando nas letras brasileiras, como outros, deixou-se vencer pelo “classicismo” letrado. Os temas, o sentimento nos seus escritos, podem estar voltados para o Vale, como denominamos a região tributária no rio que dá nome  à terra. Algo, todavia, atropela o seu estilo, logo ele, reconhecido entre os mais inspirados e conscientes escritores do país. Foge para outras paragens. Nos romances publicados e no seu jornal literário, é um mestre no nível de Osman Lins, Ivan Bichara, Ernani Sátiro, de Pedro Nava, de Álvaro Lins e outros notáveis do memorialismo literário nas Américas, na Europa. Não exijo na sua prosa de ficção, no seu memorialismo, estereótipos sociais, recolhimento e organização museológica de espécies biológicas, minerais, mas o que nasce de sua interação. Da paixão e do amor libidinoso ele fala. E da corte, dos salões, da amizade, da admiração afetiva.  
Sei de gente, de pessoas ilustres como ele, também do lugar, tresmalhadas em territórios estranhos, infensas, entretanto, à pressão colonialista dos chefes da sociedade que as recebe, como os negros nas Amércas. Está aí Elba Ramalho, cantora, atriz, noiteira, devota de Nossa Senhora, filha de Conceição. Uma que outra fugida para o carnaval, para o samba, se permite, ela da linha melódica do baião, do forró nordestino que ocupa com força e reconhecimento o seu lugar de destaque na música popular brasileira, encarnando a força do semiárido. Mas até pelo tom da voz todos a identificam: É do Vale do Piancó, gritam. Cada qual com o seu cada qual, como lá se fala. 
Deixemos Ascendino com sua morada na rua escolhida para abrigar a inspiração, praticar a sua prosa a sua poesia. Porque a moderna tecnologia que absorve a atenção geral, no fim torna-se indesejável, não lhe interessa, porque se recria ela própria, anuncia-se com mudanças inesperadas, instantâneas, sons e ruídos desconhecidos, confunde ao se mostrar auto-suficiente, vencendo o tempo: o ontem, o hoje, o amanhã, misteriosamente sabidos e descritos à saciedade. Incompatível com  a reflexão fundada em sensações, fatos, experiências.
Li com muito agrado páginas do seu “jornal” e nelas deliciei-me com a beleza sonora das frases, a conclusão filosófica dos raciocínios. Argumentações, um misto de desencanto e esperança. Não reduzi a somenos a sua poesia, nos comentários acima. Jamais o faria. Chama-me a atenção, não que ele necessite, porém ilustra o verso e o torna viajor, as dedicatórias a pessoas, notáveis e simples, sentimentos nem sempre singelos  declamados aqui e ali. Certamente o ambiente de Herbert Sales, Tom Jobim, Waldemar Duarte, Rosilda Cartaxo, do mundo das artes, e de políticos e empresários, dos conclaves e balancetes, reconheço, permite-lhe o sucesso de mascate das letras porque atinge o leitor certo, conquista o leitor privilegiado porque homenageado.
Mas sobre a sua poesia reunida, com flash-backs e premonições, aduzirei autocrítica que deixei escrita no meu “PROSA CAÓTICA, II” (inédito): Não sei de obras novas criadas por autores velhos. Aos organismos vivos, nos limites da vida, a natureza nega até o poder da reprodução. A criação na velhice aparece como um filho da juventude, esquecido, talvez renegado ou escondido. Na velhice assumimos as coisas por adoção. É duro reconhecer.
Aqui a ocupação da mente. Nada de abstrações, exercícios literários:
“Despedi os últimos pensamentos e com eles as mulheres” – Eis que o Vale me enriquece de lembranças” escreveu Ascendino Leite.
3     -         SÉRGIO CASTRO PINTO  (correspondência)
Caro poeta Sérgio:
           Causou-me alegria o recebimento do seu livro de poesia “O Cristal dos Verões”  (Escritura Editora, São Paulo 2007).  Retomei o antigo conví­vio com a expressão gráfica do texto  −  para mim característica sua, não do editorador  −  na forma de apresentação do seu acurado pensamento, de sua poesia. Invejo as pessoas assim cuidadosas em se mostrar ao público. Sou meio... ou muito desleixado. Que fazer? Corrijo-me com freqüência, sem muito sucesso.  Guardo lições. Não o fiz por charme, mas me afastei de João Pessoa e de sua vida cultural, que tanto animaram um largo período de minha vida, faz mais de vinte e cinco anos, sem qualquer ressentimento, arrastado unicamente pelo chamado das minhas raízes, em razão do meu nascimento aqui no sertão. Cumpria a firme decisão  de afastar-me, na medida do possível, da militância polí­tica partidária que já não me agradava. 
        Não quero bancar o eremita, menos ainda o troglodita. Algumas vezes estive em João Pessoa, em tratamento de saúde e contatos com Evandro  Nóbrega e o pessoal União,    da UFPB, da Texto Arte, que editaram livros meus.  Ocorreram, entretanto, perí­odos de muita saudade dos amigos que ai deixei, em estirados quatro ou cinco anos sem arrendar o pé daqui. Costume, hábito, a vida melhor para mim, nada mais.
                Agora, sobre o seu livro, o que permanece em mim, depois da releitura de alguns versos, é  a satisfação do convívio ocasional, do  reencontro  secretamente desejado. Perlustro levado por asas invisíveis, um universo inteiro de encantamento e beleza de sensações e sentimentos. A inteligência instigada para ver melhor, para conhecer o coração escondido “atrás do bolso do paletó”. E as  idéias e os sonhos. O seu verso, como um afinadíssimo metrônomo, mostra mesmo que o essencial na poesia é a explosão do momento, lembrando experiências semiográficas, refletindo algumas vezes ondas sonoras, em determinados e extensos textos significantes: perturbações profundas na geologia do planeta-pessoa.  Muito semelha signos até ideogramático de escrita e verbo orientais, sem desdouro de extensões cervantinas.
                Você é, no meu modesto julgamento, um dos grandes entre os maiores poetas paraibanos. Não conheço sua obra completa, inteira em verso e prosa, todavia, o que me chegou, e o que dela falam me satisfazem. Somente alguns versos e comentários amistosos e/ou traumáticos, que o engrandecem, todavia. Certo intelectual acusado de fazer crítica de amigo sobre escritores, replicou: São amigos de verdade. Não tenho maus escritores como amigos.  A sua poesia, direi, é econômica e valiosa na sí­ntese de reflexões profundas. No mundo governado hoje pelo Mercado, foi a melhor metáfora que encontrei para lhe brindar.
                Ave Sérgio! Muito nos conhecemos e pouco nos encontramos, mas calmos, leves ou dissimulados nos procuramos. Tenho certeza. Você arredio, e eu moro longe, afastado, nas dobras das matas e serras do sertão. Não exagero. Sou daqui, gosto daqui, vou morrer aqui.  De amigos distantes, tenho notí­cias me alegro ao recebê-las.
                Voltando à  poesia, hermética ou coloquial tudo é  poesia, falo de  João Cabral, Manoel Bandeira, Ascenço Ferreira. E o que vale, repetirei sempre, é a desconstrução da linguagem seja ordinária, seja erudita. Exemplifico com Leandro Gomes de Barros e Camões. Poesia tem o seu rito, a sua liturgia, porque é expressão do indivíduo, e a reconhecemos no cerimonial da vida, da literatura, insinuante e insinuada na oratória ou na declamação. É impossí­vel evitar: somos tomados de poderoso sentimento de repulsa ou integração, em face da magia aplicada na sua construção. Evitar preconceitos e estereótipos Ah! é a melhor lição para os que soltam versos, que a emoção e o sentimento são próprios de todos os  homens.  Assusta-me de verdade a coerência de Sergio no fazer, a descoberta do sentir como numa programação própria da informática.
               Li alhures: “É patente em Sérgio de Castro Pinto, que é detentor de uma poesia atualíssima, a manutenção de uma poética em progresso desde sua estréia e, feito admirável, com uma marca de inconfundível  respeito e coerência. Com um artesanato meticuloso que prima pela contenção no objetivo incansável de dizer muito com pouco, a exemplo de seus grandes pares, Castro Pinto integra de há muito o elenco dos bons inventores da poesia de língua portuguesa do século XX.” (Peço desculpas ao autor de tão excelente e representativo texto sobre o poeta, por ter perdido o seu nome, mas Sergio me lembrará porque tal dito não esquece o autor objeto da observação crítica. Parabéns)

Cumprimentos e abraço do amigo e admirador
Eilzo Matos

POESIA, ACADEMIA, LIBIDO.



QUATRO ACADÊMICOS. POETAS PARAIBANOS ALGO ERÓTICOS.
 UNS MAIS OUTROS MENOS

            Falando de literatura, de poesia, considero indispensável que um verso, alguma palavra recorrente marquem o tempo, a práxis do poeta – tempo concreto na política, vistas em Maiakovski, em Castro Alves, na arte, a temporaneidade, não o termo meramente explicativo do conhecimento, que sofre múltiplas achegas críticas e filosóficas.  Analogias.  Outras faces da vida sobressaem irrelevantes na técnica literária escolhida – postais, caricaturas que aproximam ou escondem a sua identidade, como uma máscara. Algo, podemos dizer, no estilo “Frufru Rataplã Dolores” de Dalton Trevisan, sem explicação ideológica, psicológica, lingüística nem literária que justifiquem tal título e seu conteúdo, como social, expressão criativa do homem, o que acontece com o autor  e vem longe, quanto ao estilo, sem seguidores.  A não ser de determinado homem, absconso numa manifestação qualquer do ser, também absconso na ciência. Equivale dizer nada de nada. Nem sempre “versos anacrônicos da militância tardia” no dizer de Wilson Martins a propósito do reingresso “de Bruno Tolentino na vida literária com versos e debates altissonantes.
Mas estes poetas que nomeio, curto o seu lirismo apaixonante:  Ascendino Leite, Damião Cavalcanti,  Sérgio Castro Pinto  e  Hildeberto Barbosa. Têm “pano pra man-ga”, como falava a minha mãe vaidosamente antegozando o brilho do seu traje-rigor, cercada de modistas sertanejas na máquina de costura. A língua, exemplificando vira algo empedernido, histórico como explica o citado polemista e concluí nas minhas leituras. O caso da libido nas letras de ficção. Semelha uma doença crônica. Há casos.
1  -      DAMIÃO RAMOS CAVALCANTI.  Começo com o espantoso título do seu livro de poesia “Ausência do Tempo”. Ora, o tempo existe em nós que o medimos, referendamos, sempre o tempo, mesmo negado como o faz o poeta Damião. Em que sentido ele fala de “ausência do tempo”?  Simples jogo de palavras, parece.  Ele mostra, entretanto, para ilustrar a sua tese, nos prefácios e em citações críticas, o prestigio de sua obra. Trata-se, assim entendi, depois da leitura, de uma escapatória dos seus pecados; de poética allighieriana, medieva, no gosto da descrição e julgamento do mundo, mostrado em círculos e versos – o orbe condenado pelo comportamento pecaminoso dos seus habitantes, a memória contida nas paisagens de cismas e desejos.
            Damião decreta sentenças. Ele sabe o que faz e porque o faz. Recomenda-lhe o nome, a profundidade filosófica dos poemas, o prefácio de Jackson Carvalho, presidente da Academia Paraibana de Filosofia. Aligeirando a temática de textos, pretensamente excludentes do tempo nos seus pensamentos, reflexões e impulsos criativos na poesia, na literatura, o poeta usa o encantamento da sabedoria em versos. E o seu reco-nhecimento  no estrangeiro, noutros Estados do nosso país, é devidamente transcrito, identificado. O que ele alude, foge do “tempo literário”, cruelmente nos incompatibiliza com a literatura, que é, e não é, expressão da vida, do mundo dos homens:  na verda-    de qualquer coisa, não direi especiosa, mas qualquer coisa sua. No domínio de metáforas nascidas de fatos, como não pode deixar de ser, meramente temporais, constrói um itinerário de rotas e nominalismos.  Deixa o título do livro para trás. A pretensão do eterno, não invalida a sua poesia, reforça-a, assim reconheço, feita de resultados escolhidos, alinhados, figurações em palavras, paisagens não vistas mas imaginadas, que permitem julgá-lo. Eva, Eros, “árvores mulheres”. A libido espicaçada repetidamente exteriorizando-se, ou apresentada e protegida por fantasiosas máscaras venezianas carnavalescas de sabedoria, de conhecimentos acumulados.
                 Damião é um escritor de verdades e incursões preconcebidas no mundo da arte literária, cuja linguagem escorreita, assinalada pelo citado Jackson Carvalho, dife-rentemente  de  Camões, Pessoa, Elliot, Whitman, Beaudelaire, acredito, produz o seu verso multifacetado. Machado de Assis assim o fez, na criatividade da inteligência, e não simpatizo tal recurso. Porque a poesia, acho, vem de dentro, nasce com regras, normas e forma prosódica originais, apropriadas, limitadas e belas como na cristalografia. É justo perguntar: onde encontrar tais regras?  Respondo que as encontrei na leitura de Homero, Camões, Cervantes e outros centrados na compreensão do homem e da vida no espaço e no tempo. A linguagem não corre como a água tranqüila nas planícies, nem cai turbulenta nas escarpas e penedias: ela é o seu tempo, o seu ambiente. Assim a literatura.
Nada de caverna de Platão. A poesia de Damião tem muito de um lago  de águas profundas represadas, até insondáveis. Não me proponho nem aconselho im-provisações, mas entendo que muito ajudaria para a compreensão da poética de Damião Ramos Cavalcanti, o reestudo sobre o tempo de Bergson, dos princípios da sua velha amiga escolástica, nomenclatura sexual de desejos incontidos. Ajudaria a leitura de “Os Mortos de Sobrecasaca” do nosso Álvaro Lins, algo de Otto Maria Carpeaux sobre o fazer literário, e a estética poundiana da “épica sem assunto”, de sua teoria da literatura consagrada academicamente no ABC OF READING, como qualificadora no com-cernente  a autores. Ou uma visita à sua biografia, não enfeixada em livro porque faz parte da história que está sendo escrita agora. Muita coisa? É tudo.
Parabenizo Damião pelo seu poetar, nos versos deste livro e na prosa de sua crônica semanal na internet. Deixa o que outros não deixaram: a palavra es-clarecedora ressumando cheiro pedagógico de sala de aula fechada, de professor mais ligado na sua matéria do que no interesse dos alunos. (continua)