quinta-feira, 2 de julho de 2015

Cemiterio das Almas

CEMITÉRIO DAS ALMAS
Sitonio Pinto, para mim, pelo que tenho lido dele, e no noticiário, é o retratista do dia, da moda literária, criativa na Paraíba. Não direi up-to-date, por não ter clareza sobre o significado preciso e uso da expressão estrangeira. Melhor seria Dior ou Prada que parecem mais nossas, porque francesas e italianas, chegadas a nós, para quem batemos esteira, na pista do bolão da estética toda semana. E sabemos a que se referem − ao toque aplicado nos modelos vestidos pelas pessoas em cada evento social: cerimonioso, grave ou passeio, esportivo.
As letras também se vestem formalmente, para serem vistas e sentidas. Mas o que tem isso com a escrita, a literatura de Sitonio, que muitos desconhecem o texto e o autor? Respondo que tudo e muito mais.
A propósito, ocorre-me a anedota sobre um deputado, que era citado sempre que se noticiava fato político ou administrativo. Mais criticado ou simples referência inexpressiva, ele respondeu francamente ao amigo que o alertara: “O essencial é que falem em mim: de mal ou de bem. Político sem notícia está no cemitério!”
A morte, o outro mundo, os espíritos, as almas. Perdemos horas da vida elucubrando sobre tais entidades. Na crença e na descrença. Nestas condições nasceu Sitonio Pinto em Princesa − cidade de contos e lendas medievas na convivência dos seus habitantes com autoridades conspícuas, mal-assombros, reitores, madres, cangaceiros, botijas, que não havia em muitas, entretanto delas se sabia, o que lhe assegurava o destaque entre as demais.
Dias atrás passei por lá, onde assistem Aloisio Pereira e Tião Lucena, dignificando qualquer amizade. Visitei Flores, subi a serra, deixei o Pajeú lá embaixo, cruzei Triunfo, alcancei Manaira e Santana de Mangueira, caí no Vale do Piancó com o cheiro de pólvora tomando a respiração. Mas nada estranho avistei, só as ruas, as pessoas, as serranias, as novidades dos novos tempos, sombras, ruínas dos velhos costumes. Nada de tristeza – alegria e ansiedade somente.
Enquanto isto, Sitônio levado pela convivência com os mitos de sua gente, na balbúrdia e agitação da capital, é gentilmente ajudado por uma bela mulher que o deixa no endereço procurado Instituto Médico Legal (IML), vizinho ao cemitério, e na manhã fria, permanece em pé na calçada desfrutando os raios mornos do sol.
Sei de muitas histórias de almas penadas de mulheres, que na alegria com os homens, divertem-se. Deixadas na sua morada, como pediram, espanta-se o companheiro, ao descobrir que se encontra no portão do cemitério que ela já adentrara, e sumia-se entre os túmulos.
— com Humberto de Almeida e outras 19 pessoas.
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quinta-feira, 4 de junho de 2015

MUDANÇAS − O TEMPO
Tempos difíceis, o mundo já não é o mesmo. Falam aleatoriamente, sintetizando as crises que acompanham o desenvolvimento − na verdade os momentos críticos de transformação da superestrutura jurídica, que governa as relações sociais. E nós dentro delas. Fazer o quê?
O que acontece mesmo é o novo, irreversível e originário da práxis determinante do processo social, na multiplicidade dos fatos, decorrentes do seu inter-relacionamento.
Desde muito sabemos disto, porem recorremos, desesperados ou espertamente a entidades fantásticas, a conceitos e legendas míticas, racionalmente inexplicáveis, como provocadoras da situação que tornam satisfatórias ou desconfortáveis estas relações.
Um morador da fazenda, pessoa submissa no passado, sem garantias legais do emprego, quando se ajustava na base do compadrio para arranjar moradia, alugar o seu trabalho, sentia-se hoje desamparado com a “modernidade”, e surpreendeu-me.
Numa conversa sobre a precariedade da segurança, da saúde, da educação, das marchas populares de protesto no país, do escandaloso casamento de homem com homem e mulher como mulher, que só aceita quem tem veado ou sapatão em casa, saiu-se com esta: “As dificuldades, começaram quando as mulheres tomaram o lugar dos homens. Tudo parece normal e garantido pelo governo. Mas a bagunça é geral. Eu digo que o lugar da mulher é em casa, parta cuidar da família“ E nós do escalão superior, ofendidos nos nossos privilégios, achávamos que o mal estava na presença de “ex-pobres” nos aeroportos, viajando para visitar parentes no norte ou no sul, para turismo na Disneylândia, em Roma, trocando presentes nos dias dos pais, dos namorados, etc.
Não adiantaria objetar explicações fundadas na ciência paradoxal dos técnicos do governo do PT. Homem idoso, o seu conhecimento remontava a um mundo sem escolas, notícias, sem rádio e televisão. Tudo na sua mente estava confuso, fundado nas lendas primevas das primeiras sociedades humanas, de reis e rainhas, de feiticeiros...
Obtemperei: “Mas as mulheres estudam e aprendem, sabem das coisas.” Ele atalhou: “A razão é minha, veja... Com o meu trabalho dava de comer e vestia a família... hoje mal posso sair de casa...”
A consciência da coletividade foi “esmagada e moída” como num almofariz. A verdade subliminarmente estraçalhada em conceitos falaciosos embotava o seu raciocínio, e ele debatia-se desajustado à nova realidade, restava-lhe a falsa compreensão do que estava certo ou errado, da sua significação e nada mais conhecia, sequer intuía da realidade.
A quebra do milho, a cata do feijão, o amojo dos bichos, a derrubada das matas, a carpina perderam-se no passado fundado no trabalho mesmo artesanal. A nossa origem é rural. De ricos e de pobres. Mas a marcha do tempo e das trans-formações é inexorável.
— com Gilvan de Brito e outras 19 pessoas.

domingo, 17 de maio de 2015

EDME TAVARES



CAJAZEIRAS NO PLANALTO (Publicado no Jornal O NORTE em 1982- no livro “Prosa Caótica” Editora A UNIÂO, João Pessoa 1985)
      
       Sim senhor, vai o deputado Edme Tavares ser recebido em audiência especial pelo Presidente João Figueiredo. Assim noticiou ontem este jornal. Não me consta, na atual legislatura, que uma oportunidade dessas tenha conseguido outro integrante da nossa representação em Brasília, apesar das solicitações encaminhadas insistentemente ao Ministro Leitão de Abreu. E leve-se em conta o que se credita aos demais: antiguidade no “posto”, maior expe-riência. Um tento digno do deputado cajazeirense, meu com-panheiro em duas legislatura na Casa de Epitácio Pessoa, e que me acostumei a admirar pela habilidade e competência, aliadas a uma firmeza inabalável no desempenho do mandato que o povo lhe confia.
       “Cajazeiras ensinou a Paraíba a ler”, gosta de dizer o historiador Deusdedith Leitão. Se não à Paraíba, pelo menos  aos sertões dos rios do Peixe e Piranhas, algumas cidades do Ceará e do Rio Grande do Norte localizadas nas fronteiras com o nosso Estado. Seguindo a tradição da cidade do Padre Rolim, o amigo Edme está ensinando aos políticos da terra a lição da eficiência parlamentar, da res-ponsabilidade pública, debatendo os grandes problemas nacionais, encaminhando os pleitos do seu Estado com as específicas reivindicações regionais. Longe de mim o desejo de criticar a atuação dos nossos representantes, ressalto o desempenho deste deputado de “primeira vez”, a sua desenvoltura.
       Tenho em mãos o segundo número do “Informativo das Ati-vidades do Deputado Edme Tavares”, em apenas quatro meses de mandato. Um canal de comunicação responsável e indispensável com o povo, numa demonstração de que leva a sério a repre-sentação popular, prestando contas de sua atuação com atualidade. Dividindo o seu tempo entre os Ministérios na busca de recursos  e benefícios e o trabalho na Câmara Federal, vai o nosso conterrâneo  granjeando uma crescente admiração. Uma novidade, sem dúvida. Os paraibanos que o digam.
       Mas, voltando à audiência do deputado com o presidente, o fato é realmente auspicioso, tendo em vista os assuntos enca-minhados pelo parlamentar junto ao governo federal.  Entre outros destaco a redução da idade do trabalhador rural, para fins de aposentadoria, e o brilhante pronunciamento em defesa do Nor-deste, comentado encomiasticamente pelo confrade Agnaldo Almeida. A nossa imprensa, em suma, não tem negado espaço para divulgação do seu trabalho. Cavador, furão obstinado, persistente, assim Edme vai se insinuando, conquistando posições, recebendo do governador Wilson Braga prestígio e tarefas. É verdade. Em Brasilia, todos afirmam: o deputado Edme Tavares não se recusa a acompanhar os pleitos dos seus conterrâneos. E o faz com êxito, vigilante, com satisfação.  Por essa razão o governador que conhece como ninguém a burocracia na capital federal, tem no deputado de Cajazeiras já familiarizado e orientado por ele, um ponto de apoio para o encaminhamento dos casos do seu maior interesse.
       Como sertanejo e ligado por laços de família à cidade natal do deputado Edme Tavares, começo a ficar vaidoso, não escondendo o meu contentamento. O que não dizer do seu grande amigo prefei-to Epitácio Leite Rolim, dos deputados Antonio Quirino, José Lacerda e Efraim Moraes, entre outros, em cujas áreas de atuação política e apoiaram. Esperamos todos, os frutos da conversa que Edme manterá com Figueiredo. O Nordeste precisa de resultados positivos, pois não nos basta a esperança, que definha e se con-some no tempo. Aguardamos com justificada ansiedade a comu-nicação que Edme fará à Paraiba. Não esqueça Edme de levar ao presidente a nossa palavra de fé e desejo na recuperação de sua saúde, agravado o seu estado pelas crises que têm dominado a vida nacional, pelo peso de suas responsabilidades.

quarta-feira, 13 de maio de 2015