sábado, 30 de abril de 2011

Faculdade de Direito de Sousa

FACULDADE DE DIREITO DE SOUSA COMPLETA QUARENTA ANOS DE SUA CRIAÇÃO, INSTALAÇÃO E FUNCIONAMENTO – TEXTO DE APRESENTAÇÃO DO DR. FIRMO JUSTINO DE OLIVEIRA, PRIMEIRO DIRETOR DO CURSO, AO LIVRO DE AUTORIA DO DR. EILZO MATOS, QUE REGISTRA FATOS E TRANSCREVE DOCUMENTOS SOBRE O EVENTO HISTÓRICO NA VIDA DA CIDADE.

APRESENTAÇÃO
“Eilzo Matos, embora assistindo distante do centro de gravidade da
agitação cultural, tem-se sobressaído como o mais atuante e profícuo
trabalhador intelectual da Paraíba há bem mais de uma década. Nessa
quadra trouxe a lume relevante produção literária, consistente em
romances e ensaios instigantes de cunho filosófico e de pertinente e
atualizado pensamento político. Pode-se dizer, assim, que Eilzo retoma,
com o mesmo ardor, a paixão da juventude pela arte da palavra escrita em
boa forma literária.
Agora mesmo está a prover a Paraíba de importante documentário.
Trata-se da História da Faculdade de Direito de Sousa, confessadamente
construída tendo por modelo o clássico repositório de Clóvis Bevilácqua
sobre a congénere de Recife.
É bem de ver o esmero com que o romancista e poeta sousense
resgatou papéis já adormecidos em arquivos, recolheu depoimentos e
confrontou dados estatísticos, sem renunciar a sua vocação de artista
com nobre estilo literário.
E então ressalta de seu escrito um quadro vivo de uma nova época
de nossa estremecida cidade natal. Não mais a conversa miúda e sem
esperança das eternas e nunca jamais enfrentadas carências de nosso país
sousense, porém as discussões eloquentes e até mesmo eletrizantes sobre
os fatos sociais que deságuam no fenômeno jurídico, e seus efeitos na
redenção das sociedades humanas.
Do confronto dos dados estatísticos extrai o autor o resultado até
certo ponto desconcertante, o de que o repasse de verbas federais, pelo
caminho enviezado da manutenção da Faculdade de Direito de Sousa e
da remuneração do seu corpo docente e administrativo, supera, em
muito, a produção de bens da economia local e o dispêndio do Governo
do Estado com esta sua unidade municipal. Portanto, conclui o autor que
ainda sob este aspecto a criação da escola de nível superior em nosso
meio trouxe uma lufada de bom investimento à nossa pálida economia.
Ao concluir a honrosa incumbência de introduzir os leitores de
outras paragens nesta nova aquisição da historiografia paraibana,
gostaria exatamente de pedir a sua atenção para este aspecto do livro:
conforme apenas ficou sugerido no início do segundo parágrafo destas
linhas, a laboriosa contribuição de Eilzo não se limita só a lançar luzes
sobre a vivência de nossa terra e sua história de um passado ainda
recente, mas sim que, por sua abrangência documental e sociológica,
projeta-se em outros quadrantes e representa indispensável adjutório no
estudo e na compreensão das necessidades mais prementes das
populações meio que tresmalhadas de nossos interiores sem horizontes.
E ninguém melhor que Eilzo poderia empreender a tarefa,
considerando-se que foi ele o inspirador da idéia e o seu mais arrojado
executivo, a que deu nascimento o Prefeito Clarence Pires encontrando
no Professor Afonso Pereira da Silva o mais perfeito e decisivo obstetra.
Quanto a mim, indicado à revelia o seu primeiro diretor reitero que
aceitei a investidura mais como um desafio à prova unânime de
confiança, do que mesmo apondo fé e sobretudo reconhecendo
oportunidade e necessidade ao empreendimento.
Contudo, estou agora veramente convencido de que valeu a pena.
Sousa, inverno de 2000.
Firmo Justino de Oliveira

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Notas da Fazenda


FORRÓ DE PLÁSTICO
A gigantesca China de hoje, com raízes numa civilização de mais de 2500 anos, fundou o seu modelo no socialismo-marxista que chegou ao poder em 1949, sob a liderança de Mao Tse Tung à frente dos operários e camponeses na Grande Marcha, derrotando as conservadoras dinastias; e vivenciou, historicamente, momentos de  convivência com todas as tendências ideológicas presentes na vida da população. “Que desabrochem todas as flores, que prospe-rem todas as tendências: a síntese dialética que determina o mo-delo social vencerá no final”. Esta era a palavra de ordem. E chegaram aonde chegaram. Aperfeiçoam-se. É evidente que visões e manifestações destorcidas sobre a realidade objetiva, o momento histórico, fruto das variáveis que caracterizam a conduta dos homens, foram conhecidas e superadas, e até violentamente rejeitadas.  
Tal o nosso destino, acredito, e acontecerá no nosso país, como revelam passos à frente que a arte e o direito (super-estruturas ideológicas) têm dado numa política de massa. Quanto à arte e a política, na sua generalidade, revelam práticas que, lamen-tavelmente, tentam impor a institucionalização de um modelo ne-fasto, dirigido, criado pela mídia. A sociedade, todavia, faz sentir a força de sua escolha e decisões. Defender o “forró pé de serra” nada tem de conservador, mas de preservação da memória coletiva, comunitária, reveladas através da música popular. Vivo a atualidade musical, escuto Gonzagão, declamo Inácio da Catingueira e alguns autores paraibanos, sertanejos e caririzeiros. Esta a minha posição. Quanto ao forró de plástico não sei do que se trata. Seria o das bailarinas que dançam com e sem calcinha? Seria o das "letras incrementadas” no estilo:  " [...] eu tenho uma filhinha bonitinha, parece uma goiabinha, mas meu vizinho tá querendo comer a bichinha [...] bote dentro que fora não dá [...] vou pruma festa com cachaça, forró e rapariga [...] pode chupar, é mais gostoso do que picolé e você vai gostar e vai gozar..."  E mais e mais versos neste padrão. Que escuto e não canto. Coisa da idade? Não sei, porque não desgosto de certas práticas instintivas, animais.
Colhi na internet, ressentido comentário do nosso Ariano Suassuna sobre este tema. Permitam-me a citação abaixo – longa mas explicativa, elucidativa da polêmica que envolve intelectuais paraibanos chegando ao cume do poder, envolvendo o Secretário da Cultura e a Primeira Dama do Estado. Eles declararam que seus ouvidos não são pinicos para escutar o que chamam “forró de plás-tico”. Vejamos a argumentação do mestre da Pedra do Reino.
“Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!’. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são ‘gaia’, ‘cabaré’, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a ci-dade.”
            Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura); Zé Priquito, (Duquinha); Fiel à putaria (Felipão Forró Moral); Chefe do puteiro (Aviões do forró); Mulher roleira (Saia Rodada); Mulher roleira a resposta (Forró Real);Chico Rola (Bonde do Forró),Banho de língua (Solteirões do Forró); Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal); Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada); Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca); Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró); Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró);  Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.” – Ariano Suassuna.
No caso, fico com Chico César e a Primeira Dama, sem política partidária e de governo: o meu ouvido também não é pinico, bispote de barro, como diria o saudoso coronel José Rufino de Areia, senhor de engenho e intelectual no estilo do Comendador José Henrique, comtistas conservadores evoluídos.
........................Semana Santa. Chuva muita no Sertão..............

sábado, 9 de abril de 2011

Notas da Fazenda


“É UMA DOR SEM FIM”
 MANCHETE DA TV BANDEIRANTES ANUNCIANDO O SEPULTAMENTO DE CRIANÇAS BRUTALMENTE ASSASSINADAS .
A notícia abalou a nação inteira. Até nos ambientes de fantásticas necrópoles, nos redutos mais habituados à luta pelo dinheiro, pela conquista de posições referenciais, aquelas pessoas que fizeram da mentira, da perfídia, do ódio, da violência, da crueldade, do roubo e do assassinato a sua marca, literatos escatófilos, contiveram o esgar vampiresco que se compraz com o sangue – mito da dor e da miséria humanas. A dissimulação, a argumentação forçada e a peroração científica, não explicavam o que residia na origem do acontecimento. A ação foi brusca e o resultado alcançado: doze crianças com menos de quinze anos foram assassinadas a tiros de revólver, mais de dez restaram feridas pelo agressor homicida. Refletiram todos, mesmo assim, por um instante, e certamente se indagaram:  Por que? 
Com mais de setenta anos bem vividos, no centro dos acontecimentos que se desenrolam na vida da sociedade, também me surpreendi com a notícia desumana e implacável no seu conteúdo, com a lembrança obliterada e impedida de se realizar na memória dos fatos, numa escala valorativa. A midia cumpriu o seu papel como integrante (não mais instrumento) do sistema global de dominação da sociedade − avançou para confundir, em impenitentes exegeses meramente ritualistas, litúrgicas ajudadas por todas as expressões e formas de envolvimento da coletividade, rumo aos paradoxos que explicam as teses antropofágicas do Mercado e deixam todos plenamente conscientes que nada entenderam, isentando-se de responsabilidade. Isso mesmo. Apesar de tudo, vacilou, titubeou.
Tivemos Auschwitz, Treblinka, Arquipélago Gulag, Hiroshima, Átila, FHC – enfim a fórmula ideal onde o bem e o mal se contrapõem e vezes se compõem, se completam. Impossível agora, com as alegorias harrypoteanas, os avatares decidindo os destinos, na clareza da inevitável disputa de situações e tesouros, intentarmos encontrar nos escuros desvãos da consciência hu-   mana, e entendermos a caverna de Platão, o super homem de Nietsche, o insconsciente, a libido anal de Freud. Porque seria mais simples com as enunciações precisas da geometria plana. É desses mistérios e apoteoses científicas e matemáticas que se sustenta a negação das coisas simples.
Aqui onde moro as interpretações, também as escolhidas pela mídia, remetem ao ódio a origem e conseqüências das tragédias; à superestrutura jurídica e ideológica da sociedade, que produz lesões difíceis de reparação nos ínvios círculos neurônicos, emaranhados no cérebro humano.
Como explicar a frustração da felicidade que se pode legitimamente esperar? É perturbadora a indagação.
“Simplesmente porque pertence a uma sociedade em que a tragédia aguarda o homem a cada momento, em que o menor incidente pode sempre desencadear catástrofes”. [...] “A Fatalidade seria mais aqui uma espécie de constrangimento social que priva o homem de toda liberdade de escolha...” Este o quadro social, a via que devemos palmilhar na modernidade, e nos são oferecidos inapelavelmente. Esta reflexão encontrei-a na tese sobre o cangaço, do mestre francês da universidade de Grenoble, Jean Orecchione, a propósito do romance “Coiteiros” de José Américo de Almeida, incluído na “Coleção Cangaço” Edições Aquarius Ltda. João Pessoa, sem data. Ele rematava o capítulo de sua tese: “O Sertão é verdadeiramente esta cena trágica sobre a qual, como dizia Valery, ‘paira constantemente a morte violenta’”.
Assim também em Vigário Geral, nas escolas elementares, nas universidades, nas agências bancárias, nas estradas, nas ruas das cidades brasileiras.
...................Assassinada hoje com um tiro de revolver num assalto, na estrada Pombal/Coremas, a amiga Noeme, vizinha de propriedade.......................