domingo, 16 de setembro de 2012

Notas da Fazenda


AMIR GAUDENCIO.
Um grande e bom amigo. Difícil encontrar muitos com esse quilate social, moral. Amir Gaudêncio era detentor dessas qualidades, que não somente possuía, mas repartia na convivência com os demais sem intervalos de tempo. Faleceu, silenciosamente, direi melhor discretamente, que era a marca de sua coragem, de sua nobreza, no enfrentamento do insidioso mal da saúde que não tem memória, não perdoa, como o implacável carcará do lamento de João do Vale, que até recém-nascidos “pega, mata e come” ─ o câncer. No isolamento rural, somente agora soube de sua morte.
Falo de uma amizade familiar, que vem das primeiras décadas do século passado, nascida da estreita relação política e status econômico das famílias, da vida nas fazendas, das longas viagens a cavalo atravessando o Estado, antes da construção das estradas, da chegada do automóvel. Os jovens sertanejos demandavam outros centros desenvolvidos, para o estudo nas universidades, e os chefes políticos do interior no exercício de mandatos eletivos conquistados em pleitos eleitorais dirigiam-se para a capital, os tropeiros procuravam outros centros, no  transporte de mercadorias, da produção agrícola base da economia local.  Lugares eram escolhidos para o descanso, o rancho, a refeição debaixo de árvores. Algumas fazendas recebiam conhecidos para a dormida no alpendre, a roça para o descanso dos animais.  Pois tudo começava aí. Naquele tempo o curso de Direito no Recife, e o de Medicina em Salvador eram os mais procurados, que outros só em São Paulo, no Rio de Janeiro. 
Escutei curioso o meu tio Salviano Leite, de Piancó, e o dr. Tomaz Pires, de Sousa, falarem daquelas viagens, de contemporâneos, alguns notáveis  principalmente da região Nordeste, como o romancista José Lins do Rego, entre tantos. E até de praças, teatros e restaurantes que ainda funcionavam nos anos 50, e freqüentei, quando o trem e o ônibus me levaram ao Recife. E lá encontrei estudando medicina, quando eu estudava direito, o jovem Manoel Gaudêncio. A velha amizade perdurou até o presente. A Aliança Liberal e a Revolução de Trinta uniram e separam famílias. Vem daí a nascente simpatia e camaradagem dos meus parentes com a família do senador José Gaudêncio, depois exilado na Europa, pelo exercício de uma liderança política no Cariri paraibano que ainda perdura, estendendo-se por todo o Estado.
O escritor Virgínius da Gama e Melo, de família campinense, falava-me com admiração dos entreveros da política regional envolvendo os Gaudêncios, representados pelo advogado Álvaro o patriarca e chefe do poderoso grupo. No seu romance “A Vítima Geral” que leva para a ficção o assassinato do vereador Félix Araújo, retrata um jovem de conduta social elegante e irrepreensível, até na presença afirmativa e requestada na zona do meretrício, o jovem galanteador  Amir, certamente o Gaudêncio. Pois este Amir que chegou ao Senado, conduziu a família como interprete principal de suas posições partidárias. Deixo por conta do admirado jornalista Martinho Moreira Franco, a homilia do ilustre amigo desaparecido, cuja memória se impõe aos paraibanos.
“O último domingo começou sob o signo da tristeza.  É que os portais abriram o dia noticiando a morte de Amir Gaudêncio, figura humana que tinha a delicadeza de um domingo – não aquele da “síndrome da depressão”, mas o domingo de antigamente, em que a gente amanhecia, vestia a melhor roupa e ia à missa. Sim, havia um ar dominical em Amir, um modo de apresentar-se como que vestido de linho para o cumprimento da liturgia das preces. E nele pairava uma elegância de porte muito além do terno sempre bem talhado, sustentando-se numa graça interior que se projetava na distinção, no fino trato, na finesse. Era Amir Gaudêncio a mais perfeita tradução do cavalheirismo. A Paraíba ficou mais pobre em refinamento, em lhaneza”.
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domingo, 9 de setembro de 2012


DOMINGUEIRAS COM RICARDO COUTINHO
(Notas da Fazenda)
Tenho dito e repetido que esse cidadão, o governador, é um mau caráter, um cara de pau, um cara-lisa comprovado. Conhecemos a falaciosa argumentação que ele usa para se explicar incriminando os demais. Nunca um governador da Paraíba figurou, foi indiciado, denunciado criminalmente pelos seus atos na gestão pública como o atual. E age com métodos de bandoleiro e violência de assaltante. Não poupa sequer a imprensa noticiosa, cujos espaços ele usa e paga com dinheiro público. O resto é minoria, ele raciocina assim. Tem uma anedota na Paraíba envolvendo o Ministro José Américo e um historiador e político patoense, Otacílio Queiroz, que mancava de uma perna. Zé Américo o descreveu com uma de suas tiradas lapidares: "Não vou sequer citar o seu nome, pois todos o podem identificar, Deus já o marcou para não perdê-lo de vista..." É o caso de Ricardo Coutinho com a sua boca torta, a crueldade revelada na suspeição em que coloca servidores do seu governo, desde os mais íntimos às grandes categorias funcionais, das lágrimas que provoca. E figurantes da administração estadual que o antecederam, violentando direitos. Traída por ele a Paraíba protesta pela voz dos injustiçados. “Vade retro Satana”.
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Gosto de  tiradas do ex-deputado e jornalista Gilvan Freire, de suas reflexões sobre o momento político da Paraíba. Ele é também um "cara". Leiam sua pagina na internet. O mal dos maus governos está em confundir democracia com muleta social. Viver é lutar, já cantou o poeta. Ortopedia social é criação de mentes fracassadas. Assim a política de "inclusão", que deve ser uma conquista, não uma dádiva caritativa. Apoio e tratamento humanitário para os carentes e deficientes deve ser meta, não compensação. Direito é outra coisa. Tanto que é esquecida pelos que nela falavam: Ricardo Coutinho é o mais ilustre e fracassado exemplo ilustrativo, neste caso.