quarta-feira, 18 de abril de 2012

NOTAS DA FAZENDA

Sou sertanejo de nascimento. Vim ao mundo no sítio Gato Preto, hoje bairro chique em Sousa, no dia 23 de junho de 1934 (quase um século, mas estou bem, por enquanto) e o parto de minha mãe foi assistido pelo grande e inesquecível médico sousense Dr. Zezé Sarmento, pai de Gilberto que foi prefeito e deputado. Como dizia, sou sertanejo, e me criei embalado pela música popular executada no nosso meio em sanfona, saxofone, violão, zabumba e pandeiro: o choro, a valsa, o baião, o xote e outras, de melodia e ritmo românticos e festeiros. Não me envergonho por isso. Falo a propósito de reportagem que vi na tv sobre estes instrumentos musicais e sobre profissionais peritos na sua execução: me deliciei com Gonzagão, Dominguinhos, Si-vuca.  De Sousa que a memória me estimula, falo do passado com Zé Fontes e Chico Malota, Zé Costa e Dedé de Félix. Nomes inesquecíveis. Escutei outros musicistas, mas deixei-os de lado: sopranos chilreando árias de música erudita, barítonos e baixos trovejando melodramas, “spalas” silvando estertores de Paga-nini. Todos valeram pela performance e consagração que os fazem lembrados. Mas fico mesmo com Asa Branca, Feira do Mangaio, Aconchego. E os meus saxofonistas e sanfoneiros. Exceção faço para as modinhas de Carlos Gomes.

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Vi algo absolutamente ridículo e cretino na pessoa de um individuo que participava de uma entrevista coletiva na programação da TV Câmara. Apelidava-se "Rapadura Xique Chico", as roupas e enfeites que usava tornavam impossível identificá-lo como representante ou integrante de uma so-ciedade ou situação nacional qualquer. Restou de sua apre-sentação somente a idiotia de sua pretensão, a estreiteza de sua imaginação, a começar com o nome, o traje e as palavras jogadas na cena no intuito de improvisação poética, criativa que honram a cultura nordestina e delas sequer ele se apro-ximou. Um enérgumeno, um estelionatário na atividade cultural da sociedade.
 
Sou sertanejo nordestino, sousense, como sabem os meus conterrâneos. Do Maranhão a Alagoas, Baía, pervaguei cidades e áreas rurais. Conheço grupos sociais que guardam ca-racterísticas culturais que os identificam, como autóctones, e o traje é verdadeiramente próprio e distinto de outras sociedades e regiões geográficas. Sei o que é nordestino na sua expressão mais viva nos costumes, e denuncio como ato de má fé e pouca inteligência, a postura dos que tentam reduzir a modelos ex-travagantes, a simples palhaçadas, a arte de viver e de repre-sentar o que nos distingue como fonte da cultura nacional, caracteristica, autêntica, originária. Entendo que o destino da produção cultural de qualquer povo há de ser o de constituir-se em expressão para o debate e discussão dos problemas nacionais. Assim achava Álvaro Lins. Buscam eles e reclamam o modelo da "Inclusão"? Uma clinica psiquiátrica poderá torná-los aptos para a convivência social.
Torno claro, numa tomada de posição, que entendo “a formação e o desenvolvimento da literatura (assim os padrões e paradigmas culturais) como parte do processo histórico total da sociedade. A essência e o valor estético das obras literárias, e também sua ação, é parte daquele processo geral e unitário pelo qual o homem se apropria do mundo mediante sua consciência.” (Lukács. Critica). Daí não confundir evolução e desenvolvimento no campo da cultura, da arte, com o espalhafato chocarreiro.............
 

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