quinta-feira, 26 de abril de 2012

NOTAS DA FAZENDA


Comentando Chico Pinto (blog do Tião 24-4-2012)
Oportuno o seu comentário, de modo especial pelas denúncias sobre o oportunismo do governo e dos que o criticam, neste momento que antecede eleições gerais no país. O que acontece é que o governo se tornou refém dos projetos sociais de redistribuição de renda, e inclusão a qualquer pre-texto para grupos selecionados da coletividade. Tudo em função do voto. Esta verdade foi tratada na literatura, no teatro do absurdo. Camus denun-ciou que a população estava reduzida a duas categorias de cidadãos: os que portavam distintivos do governo e os que não o usavam. No caso as "bol-sas", a "inclusão" e outros benefícios estendidos aos escolhidos, como seguro safra sem plantar um grão, etc. Assim podiam saber quem era a favor e contra o poder, desde que constasse ou não o seu nome como beneficiário dos mencionados projetos. A seca, no passado, representava a morte pela fome e hoje não assusta,  porque todos contam com rendi-mentos para o sustento da família. Pouco? É verdade. Mas o suficiente para recusarem a oferta de trabalho assalariado. O tempo é de ajuda, trabalho não, argumenta o professor Caetano secretário municipal em Sousa. Emprego somente com salário e direitos assegurados. Saúde e educação são garantidos na rede oficial de serviços. E a cidadania fala alto. "Não tem médico e remédio? Falta professor? Vou ao Ministério Público denunciar estes administradores corruptos." Hoje o povo grita sem medo, se orgulha como titular de direitos, não de obrigações. Algo assim como os adeptos dos evangélicos, antes analfabetos, que se orgulham da leitura da Bíblia sem entender o que lêem, porém na vaidade de manter um livro aberto e demonstrar que o pode ler. Mesmo sem alcançar a significação de palavras como "faraós", "profetas", etc, elas lhes falam de algo transcendental, histórico, dá prestígio falar neles, porque os seus familiares e conhecidos jamais o fizeram.

Comentando Tião (blog do Tião 26-4-2012)
Esse é o clima que rola aqui no sertão onde moro. Ninguém fala em chuva, em seca, em inverno. Dá pra aceditar que seca nunca existiu. Existia fome isto sim. Ontem cerca de oito horas da manhã, vi o operador de uma retro-escavadeira com vidros escuros, ar condicionado, cavando no leito de uma estrada em construção. O transito ficou parado por uns instantes e formou-se uma aglomeração de 32 homens que eu contei com cuidado, sem falar em algumas crianças e mulheres. Fácil de explicar o ajuntamento: todos estavam de barriga cheia beneficiários de cestas básicas, seguro safra, cuscuz, leite e pão que recebem todos os dias, e ainda a bolsa família a aposentadoria. Cidadania, porque emprego não existe, e hoje, os novos sujeitos sociais não discutem tarefas, mas salário e horas semanais, folgas, férias, vale refeição, fgts, etc. E somos a sexta economia do mundo e por consequência a sexta contribuição de juros para a banca financeira inter-nacional que arrecada e leva à inanição sociedades ditas evoluídas como a européia. Guardo receios quanto a nossa situação de país, de povo de nação. O medo que tenho fundamenta-se na advertência do Gonzagão no seu forró sensacional: "Doutor uma esmola dada ao homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.” Aí estará tudo perdido. E nada de chuva. Mas falam em dinheiro grosso para os “atingidos”, a começar com a novidade da “bolsa estiagem”. Essa gente sabe como tanger o problema com a barriga. Fracasso para o governo que virá, não para agora, esta é a grande tese motivadora das ações. Brecht na “ópera dos três vinténs” advertiu que qualquer discussão em nível popular, coletivo tem que começar com alimentação. A fome é má conselheira. O vício também, no caso vício de acreditar que “vem ajuda por aí”. Trabalho em obras públicas, quer de conservação, construção ou reconstrução, é coisa do passado. Vivemos a democracia das eleições. Por esta razão novas inclusões são anunciadas todos os dias. Dá pra pensar que chegará o dia da exclusão de alguns, porque todos forma incluídos. A qualquer pretexto.

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