domingo, 13 de fevereiro de 2011

Praça Rural

PRAÇA RURAL III
(Notas da Fazenda)
Acatando sugestão do amigo César Nóbrega – esquerdista de plantão – que me presta valiosa colaboração na possível atualidade dos comentários que divulgo neste blog, fiz assinatura da revista “Brasileiros” editada em Pinheiros, São Paulo. Buscava informações para basear argumentos em defesa de um projeto que imaginei e entrego para discussão pública – a criação de Praças Rurais. Recebido o primeiro número da revista, o 36, com suplemento, espantaram-me e me encantou o luxo do papel utili-zado na impressão primorosa, e, no nível do escalão financeiro dos anunciantes, nem é bom falar. Vale a pena conferir. Mas adianto: nada de preconceito contra a exibição da beleza e esmero de um produto jornalístico; muito menos de abatimento moral, e de empedernido complexo de inferioridade em relação ao poder do dinheiro. Para mim, naquele escalão VIP da nação, estava o mapa da mina para financiar o meu projeto, pela presumível prodigalidade que às vezes a riqueza permite, pela sua inescusável origem rural (ver Chico Buarque: “o meu pai era mineiro, minha mãe era baiana, o meu pai pernambucano, o meu avô estrangeiro”?). Engano nos versos? Uma tolice rematada? Guardo esperanças.
Quanto aos escribas ou plumitivos da editoração − melhor chamá-los jornalistas mesmo −, vocábulo mais atualizado e que desfruta no panorama global do planeta um inexcedível prestígio, eles assinam textos verdadeiramente representativos da suspeita parceria pública/privada, no funcionamento de instituições oficiais e civis, a mídia inclusive, desde que respeitadas as regras do “custo-benefício” (quem é quem? qual é qual?) da informação, que o sistema criou. Arre! Porque as regras neste mundo do lucro financeiro são irretratáveis, desde que aferidas pelo Mercado também global que chegou ao “fim da história”, aplaudidas por quem as sofre e as não entende, não as discute. Quanto ao governo, isto é outro departamento, pode tudo, mediante fatu-ramento legal, anunciar, cooptar, chancelar, quem sabe até se desdizer. Porque afirmações peremptórias de certas autoridades mais parecem simulacros e arremedos, para coonestar o que é indecente.
Very important person para ver nas páginas da Brasileiros número 37, como o craque Raí e um machão atlético de cinqüenta anos que “relaxa nas areias Maldivas, pequeno país insular no Oceano Índico” (“Perto do Coração Selvagem”pags. 76 a 79). Coisa assim no gosto do ex-presidente Collor que depois de eleito, sem projeto de governo fugiu dos paparazzi e se refugiou nas Seicheles, ilha ignota também à deriva no remoto oceano. Imaginem os leitores a badalação em Dubai, em Las Vegas, na Avenida Paulista, que tal evento provocou. E em Paris e Aruba. Ali está o dinheiro, corre farto, e o governo atento às opiniões dos turistas que sustentam o Mercado, geram empregos, etc. se põe de acordo. Tradição fala de uma economia atrasada, do passado, não gera riqueza considerável em termos atuais. Este o problema.
   Mas quero, verdadeiramente, falar sobre Praça Rural: sombra e bancos em locais freqüentados no campo, para negócios e lazer dos que ali vivem. Defendo a história e o passado de uma população. Evoluindo o projeto, segue-se a organização burocrática e uso de tecnologia e equipamentos modernos para os fins próprios. Somente assim é possível preservar a paisagem, a memória, a tradição. Porque as festas de São João e a Vaquejada, vistos na cidade, ferem e doem pelo ridículo com que fantasiam e nomeiam os personagens e a comemoração. Se insistirmos muito em vôos transoceânicos e transcontinentais, perderemos a nossa identidade de Nação. Nada contra esse prazer de viajar, falo apenas da defesa da nossa tradição que nos dará identidade e ilustrará a nossa história. Repito: é bom escutar Chico Buarque, quero dizer a sua música, porque a sua literatura e a de Jô Soares, como afirmou Wilson Martins (História da Inteligência Brasileira, diversos volumes) crítico literário que lecionou durante 26 anos em Nova York, é de brincadeira.
*
            A “Brasileiros” 37 que acabo de receber, me premiou com uma excelente entrevista do Ministro da Cultura, usando paletó e brincos, narrando as suas aventuras e participações em fóruns culturais internacionais (mais de vinte em dois anos) acolitado por brilhante comitiva, que deu à Cidade Velha da Ribeira Grande na Ilha de Cabo Verde o título de Patrimônio da Humanidade e evitou que as Ilhas Galápagos perdesse, ao assinalar que temos muito a ver com a primeira “pois boa parte dos escravos que veio para o Brasil passou pelas ilhas”. E quanto às segundas, talvez a criação de cabras? Mas ele afirma do alto de sua prosopopéia: “Não podemos usar a simpatia que o Brasil tem no mundo para sermos um novo imperialismo”. Que coragem! A propósito, quando vejo uma mulher bonita bem “produzida” sem um elegante e rico par de brincos, para mim está faltando algo próprio dela, importante e indispensável; ao ver homens usando qualquer traje, com brincos enfiados nas ore-lhas, para mim está sobrando efeminação, frescura, embora, estranhando os respeite, tolere e com eles conviva, sem usar os penduricalhos. Eu hein! Sou chateado com tal comportamento e tenho muito amigos espadas, machos (acredito), cultos que praticam tal moda. Vá La que seja!
            Descobri, entretanto, para tristeza minha, que naquele circuito esnobe não encontraria apoio para a minha pretensão: criar Praça Rural. É preciso, antes de tudo, avaliar a “dimensão econômica do consumo”. Parece linguagem de ritos de iniciação em sociedades privatistas, de cunho obscuro, esotérico. Porque prevalecendo tal critério de avaliação, no reino das humanidades não funcionarão projetos sociais, somente os mercantis, recomendados segundo regras mercadológicas (marketing?). É o que diz o Ministro de brincos. A ele, contudo, credito a idéia dos Pontos de Cultura, implantados e ativos nas cidades, que estarão certamente presentes nas Praças Rurais, que receberão ainda parte dos sete bilhões por ano que serão “injetados na economia por meio do consumo cultural” – o Vale Cultura −, em discussão no Congresso Nacional, para gáudio do Mercado, e também idéia do Ministro de terno e brincos, segundo ele, derrotando o meu preconceito. Com ele a Praça Rural teria sua vez, pois até agricultor ele se declara ao comentar a gestão do seu antecessor também de brincos: “Gil plantou sementes de uma revolução nas políticas culturais brasileiras e agora estou colhendo os frutos dessa mesma agricultura”.  A prática do plantio e da colheita se realiza no campo e não na cidade, daí a minha esperança que a visão do ínclito burocrata chegue até nós campesinos – às Praças Rurais.
            No princípio era o Verbo, está na Bíblia. E no princípio da sociedade dos ho-mens está o campo, a agricultura. A roça, a Praça Rural, portanto. Senhor Ministro Juca Ferreira, escute e atenda o apelo dos campesinos, dos matutos, dos caipiras que ainda existem, vivem e trabalham. Projete, programe e implante Praças Rurais no país..........


 


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