domingo, 20 de fevereiro de 2011

ELEIÇÕES NA ACADEMIA PARAIBANA DE LETRAS
Tornei-me ultimamente − já lá vão trinta anos − um homem de pouca leitura e menos diálogos ou conversas, dado o meu espontâneo recolhimento a uma moradia rural. Naturalmente tenho o que ver e entender aqui, num nível, entretanto, que o contato com as pessoas do lugar se reduziria a pura intenção e resultado relatorial de pesquisa. Bacharel do Recife dos anos Cinqüenta/Sessenta do século passado − perdão, sou desse mundo velho −, as ciências jurídicas, políticas e sociais, e a literatura imaginativa, de ficção, dominavam as minhas reflexões. Funcionário público por destinação profissional e familiar, esqueci outras práticas argentárias, apatacadas da vitória fundada nos ganhos. Só a discussão a formulação de conceitos me interessava, e a cadeira onde devia me sentar. Terminei, inesperadamente, membro da Academia Paraibana de Letras. A verdade é que tenho pouco para conversar, mas muito para viver.
Pois bem. Aqui estou no mato. Mas incursões metropolitanas ultimamente passaram a dominar o meu modo de viver, logo eu, que cheguei a passar cinco anos ininterruptos sem visitar a capital onde vivi e morei por mais de dez anos, deixei familiares e bons amigos. Surpreendente esta anedota, todos acharão. Mas é que fui levado a uma decisão extrema, dessas que corriqueiramente acontece com muitas pessoas, sem a  − inaudita para mim −  que a minha me levou. História para romance que revelarei um dia, em que pese a significação puramente pessoal da minha estória. São apelos autobiográficos que impõem regras irrecorríveis aos que se revelam pela escrita. O caso é que a linguagem falada é direta e imediata, e a escrita é imaginada submetida à reflexões quanto a escolha do tema e o estilo da veiculação. Aí está o perigo. Verba volant, scripta manent.
Como sempre faz e fala criteriosamente e elegantemente meu compadre Cíço Fulô – caçador e pescador completo, acabado – ele é negro gordo, inteligente, não deixa nada sem resposta. Para interromper o silêncio, eu copio e digo: “Bem.  Adonde nós estava?” Só não passo a mão na barriga como ele. Retomo o fio: contava a minha vida toda num episódio recente. Aconteceu numa movimentada manhã de eleição na Academia Paraibana de Letras a que compareci. Tive de viajar, me ausentar – uma baralhada inesperada nos meus compromissos, interferindo na costumeira e profissional atividade da venda e troca de bichos de cria da fazenda. Coisa pequena, porém essencial para ajudar nos gastos, encher agradavelmente o meu tempo no estilo de vida de todos, o que nos integra no meio, nos dá vida e alegria, contrariedades menores. E me sinto bem.
Bem. A eleição. Ótimos os dois nomes oferecidos para escolha. Pessoas de inegáveis méritos intelectuais os candidatos. A Academia Paraibana de Letras como Instituição civil legalmente organizada e submetida à legislação do país − dado a apuração dos sufrágios, constatado vitória por um voto somente, não alcançando a famosa e jurídica “maioria absoluta”  − mandou realizar eleição em “segundo turno”. Parabenizo os candidatos pela inegável relevância do pleito mostrando no resultado a perfeita e necessária expressão de julgamento e escolha. Uma agradável surpresa: Pepita chegou de férias no Chile.
Foi uma manhã animada com salgadinhos, docinhos, bolinhos, sucos de polpa de frutas, café.  Acompanharam-me o meu genro Mikika e minha filha Sandra, que se mostraram encantados com o ambiente e as pessoas. Com Hildeberto, Gonzaga e Sérgio falamos de literatura, com outros de política nacional e estadual, e da crise no Oriente. Outros falaram da intensidade do inverno, das grandes chuvas caídas que fizeram sangrar o Açude São Gonçalo, localizado em Sousa. Notícia auspiciosa pela garantia da produção do coco verde de Sousa, reconhecido como o melhor do país, como o abacaxi de Sapé, que todos saboreiam na praia.
Nós sousenses sempre na frente, desculpem a imodéstia.  Antigamente era o algodão que gerava impostos e garantia o pagamento da famosa “folha” de pessoal do Estado. Mas Sousa tem mais. Esperem para ver. Um grupo de jovens empresários está levando a cidade às alturas do passado. E falam que a EMATER anuncia a discussão de projeto para retomar o plantio do algodão interrompido com a praga do bicudo que destruía a cultura. Certamente com técnicas agronômicas eficientes  que nos garantirão esta retomada de atividade agrícola que assegurará emprego aos que ainda moram no campo. Mas com respeito à preservação da natureza, do meio ambiente. Aí está o que não agrada o meu compadre Ciço. “Uma perseguição” ele diz. Como o segundo turno da eleição da academia, que me obrigam a outra viagem à capital. Afinal moro longe (mais de quatrocentos quilômetros) e tenho muito que fazer por aqui... e estou meio “sambado”, “derrubado”. O passar dos anos...
.........................................   Fevereiro. Inverno bem começado

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