LUIZ GONZAGA E SOUSA
O destino
ligou Luiz Gonzaga, o Gonzagão, à nossa cidade de Sousa, o que comprovam dois
momentos de sua vida, marcantes para ele e para os sousenses. Sobre este assunto são conhecidas declarações
dele, testemunhadas, e também fotografias em que aparece em reuniões sociais e
festivas de que participou, que existem em arquivos pessoais de filhos de
Sousa. Resumo: num dos seus exclamativos
comentários sobre sua vida, gravados com a música de fundo da sanfona, fala que deixou a casa paterna e sentou praça,
que as forças armadas recrutavam até nas
feiras sertanejos jovens. Veio parar em Sousa que acantonava uma unidade do
exército. Vivia o país um período político agitado por freqüentes en-frentamentos
armados entre os governos estadual e
federal. Era o tempo dos “tenentes”, que culminou com a Revolução de Trinta. Presenciou
o fuzilamento do comandante, leal ao governo federal, reagindo a ação golpista
planejada. Participou como obreiro de reunião da Loja Maçônica Calixto Nóbrega
e guardamos fotografia do evento. Gonzagão ligou-se com intimidade à nossa terra.
Foi amigo pessoal de Deusdete Queiroga
de Oliveira, destacado empresário sousense, que o hospedava e dele conseguia o
gesto de consideração de participar e tocar nas comemorações do São João em Sousa, a mais tradicional festividade
social do sertão nordestino. Assim passava a noite inteira conosco, sem a
correria atual provocada pelos contratos de apresentação de várias cidades na
mesma noite. Estive presente com os sousenses no Clube Campestre e no BNB Clube
onde se apresentou, dividindo mesa em demorados momentos, desfrutando o chiste
que enfeitava a sua conversa. Fui brindado por ele com uma extensa
gravação exaltando o meu nome e a minha
candidatura a deputado estadual em 1978, por solicitação do meu compadre
Dezinho Queiroga. Mais de cinco minutos de gabolice e piadas que me exaltavam,
com o Boiadeiro como música de fundo, executado por ele na sanfona, que eu
divulgava nos programas de rádio, e como
carro chefe dos meus comícios de feira. A votação que obtive ultrapassou os
9600 votos, o que jamais acontecera em Sousa até aquela data. As votações maiores obtidas por outros
candidatos até hoje, não foram, proporcionalmente, em relação ao número de
votantes, maior do que aquela, acredito.
Ao lado um
flagrante na casa de Dezinho Queiroga com os amigos e correligionários Nivaldo
Sá e Chico Braga, verdadeiros baluartes
das nossas campanhas eleitorais.
***
GONZAGÃO E A TRADIÇÃO SERTANEJA,
ONDE ENTRAM PELOS SEUS DESCENDENTES, O MAJOR MIGUEL SÁTIRO E BASÍLIO QUIDUTE DE
SOUSA FERRAZ (adotava no cangaço o cognome de Basilio Arquiduque Bispo de
Lorena – Guerreiros do Sol, Frederico Pernambucano de Melo), E JOSÉ MATOS ROLIM
(meu avô patrerno) TAMBÉM BACHAREL DO RECIFE.
O colega bacharel da turma de
1964 da Faculdade de Direito do Recife Flávio Sátiro Fernandes, eminente
constitucionalista e mestre do Direito, postou no Facebook a sua fotografia e
fez referência ao meu nome e de outros mais íntimos no seu relacionamento, no 48º aniversário de nossa formatura, despertou
a minha atenção para a vida no Recife daquele tempo. Também fui jovem naqueles idos e guardo a
memória da com-vivência com a juventude nordestina principalmente a pernambucana,
mais numerosa, que freqüentava a famosa Escola do Direito, chamada a Casa de
Tobias (Barreto). Refiro por entender necessário, para acentuar o prestígio dos
acadêmicos de direito na capital pernambucana e conferir notoriedade a este
comentário, alguns brasileiros notáveis que ali estudaram: Castro Alves,
Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Augusto dos Anjos, José Lins do Rego, Osman Lins para citar alguns poetas e
romancistas, e políticos e juristas como
Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, José Américo,
Pontes de Miranda, José Mário Porto, Rui Carneiro, Salviano Leite,
Otacílio Silveira, Aloisio Bonavides, Clovis Lima, Álvaro Gaudêncio entre tantos outros.
Mas rendo uma homenagem sentida e
especial ao compositor e cantor Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que estimulou o
meu sentimento de amor ao mundo do sertão, aos seus costumes, aos protagonistas
da vida social local, no centenário do seu nascimento, e evocarei a sua música que nos embalava na
alegria da vida estudantil. Pernambuco é para mim uma referência essencial nas
minhas lembranças, nas minhas reflexões de natureza intelectual, nos meus
sentimentos políticos centrados no humanismo que veio com o Iluminismo e
desaguou no marxismo leninismo que era o substratato das teses políticas da
esquerda da época.
Repito o que afirmei outras
vezes: nasci na minha querida cidade de Sousa onde abri os olhos para a vida; Campina
Grande me apresentou ao mundo da literatura; Recife me alistou na frente de
luta democrática. Hoje pachorrentamente recolhido ao campo, curto essas
lembranças com a contribuição valiosa da televisão e da internet para me situar
no mundo.
Pois bem. Numa daquelas noitadas
alegres, chovia fino, e adentrando um bar na descida da Ponte do Santa Isabel
para o 13 de Maio, nas proximidades da Faculdade, encontrei o colega José
Quidute, no sempre amarrotado terno de diagnonal branco – um luxo para a
época -, de gravata, que gesticulava e
cantava alto a música tocada na radiola: Riacho do Navio, de Luiz Gonzaga. Era
a sua terra de nascimento. Sentei-me à sua mesa, começamos o papo sobre a
eleição para o diretório acadêmico, o mulherio, comprei uma ficha e apertei a
tecla do baião Paraíba, a minha terra também de nascimento.
Muitas horas passamos e sapatear e bater com
os pés no rítimo da música que tocava. O colega Quidute, este saltava com a
rapidez e o trejeito de cangaceiro, de quem sacava uma arma da cintura,
empolgava o ambiente. Quidute era branco e tinha uma farta cabeleira negra que
esvoaçava e todos aplaudiam. Eu, sem muito jeito, também dava os meus pulos,
batia com força os pés no chão, mal sucedido numa tentativa de rabo-de-arraia fiquei
de cócoras. Parecia um desafio. Cansados, quando um sentava o outro levantava.
Bebíamos cerveja e comíamos siri,
caranguejo, espeto de carne. A madrugada
nos levou exaustos para os tabiques dos nossos quartos de pensão, nos sobradões
coloniais. -----------------------------
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