quinta-feira, 16 de junho de 2011

A SECA E O NORDESTE

A SECA E O NORDESTE
(Notas da Fazenda)
Desde o Descobrimento até a Década Cinqüenta do século passado, a seca como fenômeno climático extrapolando conseqüências dolorosas para a população nordestina, fazia-se sentir na tragédia dos retirantes famintos, vagando por estradas ensolaradas e poeirentas, do rebanho animal reduzido a esqueletos, das roças calcinadas. A literatura e as artes plásticas fixaram ícones na memória nacional. Foi o tempo em que nos bastávamos a nós mesmos. A flora provia a nossa saúde. Eram precárias as estradas de ro-dagem, aqui produzíamos o que comíamos; a matéria para a fabricação de utensílios e para a construção civil: barro, areia, cal, cimento e madeira, eram fruto de reservas locais. O mundo cresceu, o país disparou na frente dos demais do nosso e de outros continentes. Tudo sob a proteção do Se-nhor conduzido por prelados paramentados sob o pálio, em procissão sob os acordes da banda de música, do cântico das irmandades religiosas, dos fiéis. Infelizmente pouco vigilantes e atentos às questões terrenas.

Tudo funcionava maravilhosamente para alguns, e aqui chegamos com identidade de Estado, de conglomerado de reserva territorial, de re-cursos minerais, florestais verdadeiramente assombrosos, poderosas organi-zações comerciais já invadindo e disputando mercados. Ledo engano. A Igreja Católica – base da ordem religiosa e social, naturalmente mudou conforme a nova realidade; a CNBB (Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil) através de pastorais dialoga com a população. Cresceu a dissidência luterana e igrejas de nomes arrevesados são instaladas como balcões de negócio, disputam com o Vaticano e as bolsas de valores a propriedade de bens e interesses financeiros, que jogam o Evangelho e a Fé na lata do lixo.

Tudo mudou, repito. A urbanização verificada na Europa ainda na Idade Média, chegou ao Nordeste na segunda metade do século passado, esbanjando e desfilando tecnologia de ponta até nos arrabaldes, hoje ditos comunidades. Desenvolvimento, progresso, bem estar geral. Mas o diabo sempre aparece sem ser convidado  já se anunciava, bagunçando o cenário, espertos uns se apropriavam vantajosamente de maiores fatias do bolo, um produto do trabalho geral e de cada um. Em 2010 os juros abo-canharam 45% do total do orçamento da União, a dívida pública que al-cança a assombrosa conta de mais de 3 trilhões, é alimentada na taxa Selic que beneficia os especuladores e prejudica o país. A LPA (Lei de Proteção a Agiotagem), chamada LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) assegura o pagamento dos juros tirados por dentro. Saúde, Segurança, Educação ficam pra depois.

Basta de catastrofismo! Eles contra-argumentam, e divulgam notícias econômicas encomendadas, de cunho técnico-científico O país, no consen-so apurado em grades e tabelas escolhidas, revela um crescimento nunca visto com a transferência de renda e a criação de um mercado interno, a ascensão social. Legislação de cunho desenvolvimentista-sustentável, e monocordiamente capitalista, foi editada, o governo aplicou-se, na busca do voto, para assegurar a posse da chave do cofre, assumindo compro-missos. Em épocas distintas exportamos matéria prima, abrigamos pri-vilegiadamente complexos industriais monopolistas, para usar a mão de obra barata, passamos a produzir equipamentos e artefatos eletrônicos, em escala, atendendo determinações vindas de fora, da gerência geral do sistema isentado de obrigações fiscais que chegavam até a remessa dos seus lucros. O país cresceu em números e nós também. Esta era e é a nossa im-pressão. Chegamos ao atualíssimo sistema financeiro global, fundado na crença do neoliberalismo que governa o planeta, anunciado por Marx como etapa superior do capitalismo. Falar em Marx, todavia, é dinossauriano, rasgam as guitarras acadêmicas. E transferem a contenda para o fun-damentalismo religioso: islamismo versus cristianismo. E exageram nos modelos exibidos subliminarmente.

Na verdade existiram Robin Hood, Lampião e Fernandinho Beira Mar. Nada têm os ricos com isto. Sempre conviveram. O problema para uns consiste em assegurar a governabilidade. Guerra Civil como a que en-frentamos são inevitáveis, todos os países viveram e viverão. Assim é o sistema. Cabe a cada um descobrir a maneira de se safar. Milhares são no nosso país situações como a do “Morro do Alemão” e as tropas das polícias militar, civil, federal, bombeiros, Exército, Marinha, Aeronáutica e Força Nacional não atendem ações como a que ali foi empreendida. A nossa situação semelha a da vizinha Colômbia onde as FARC têm o domínio de extensas áreas no território nacional, e ali é proibida a presença do Estado através dos seus agentes. A seca é memória extinta. ...................................

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