domingo, 19 de junho de 2011

COMUNISMO / SOCIALISMO / DEMOCRACIA 
(anotações de leituras)

Os italianos iniciaram no final da década de Setenta (do século passado) a discussão sobre socialismo, comunismo e democracia, rejeitando a concepção mar-xista leninista sobre o Estado e propondo a criação ou definição do chamado “eurocomunismo”, segundo eles teorizado por Gramsci. O debate girou na órbita dos partidos políticos Partido Socialista Italiano e Partido Comunista Italiano e de outros países, que na Europa colocam a discussão dos seus programas em termos doutrinários, um compromisso. Uma novidade para mim.
Do meu ponto de vista de militante brasileiro da política, reduzia sempre o problema apenas à questão eleitoral. Que fazer? Era o que nos ensinavam e a prática recomendava. Relegava para o campo da especulação filosófica a teoria do Estado, das suas instituições e o poder de administrá-las. A leitura de alguns textos de Marx, Engels e de outros comentaristas e divulgadores e intérpretes ortodoxos da mídia soviética, levaram-me à refutação radical de diferentes colocações como “revi-sionistas” ─ um erro inaceitável para os defensores da ditadura do proletariado. Para eles o caminho verdadeiro para a construção da democracia, residia na eliminação das desigualdades anunciadas pelo socialismo.
Chegamos, todavia, a um momento em que a história nos oferece novos parâmetros para conceituar a democracia, que seria alcançada com o direito das massas de opinar, e decidir relativamente às questões sociais pertinentes à construção da anunciada sociedade mais justa e voltada para o interesse geral da coletividade.
Efetivamente, sempre nos faltaram textos de ciência política que explicassem o Estado marxista (esgotado com a implantação da Comuna de Paris) segundo o fun-cionamento de suas instituições, como se operaria o exercício do poder.[1] Alinharei algumas reflexões de filósofos europeus acerca do problema. Espantará e surpreenderá a alguns, mas a historicidade e a prática provam a sua existência, e permitirão a sua análise crítica.
A tensão dominou a Europa e hoje envolve todos os continentes. Encontra-se o mundo discutindo asperamente em fóruns locais e internacionais as teses da globalização, que representa, acreditamos, a instância última do ca-pitalismo, na sua fase “imperialista”. Chegam os seus porta-vozes, curiosamente, a anunciar burocraticamente o fim da história, decretada de algum gabinete de escalão remunerado, como se a guerra que impõe normas de conduta fosse a instância final e irrefutável. Inúmeras são as formas de contestação que se operam e reproduzem, à partir da reavaliação  da estrutura interna e dos programas e métodos de ação dos que se opõem ao liberalismo político e econômico, à investida furiosa da globalização.
        O intelectual Cláudio Martelli responsável pelo Departamento de Cultura e Informação do Partido Socia-lista Italiano afirmou: “O socialismo não se identifica com o marxismo, muito menos com o leninismo,” motivando a realização de um seminário que reuniu o PSI e vários representantes dos PCs europeus. O que se identificaria com o socialismo? Todos perguntavam.[2]
        O socialista Bettino Craxi frontalmente lançou o desafio aos comunistas de Enrico Berlinguer: “Foi o leninismo que originou o totalitarismo que redundou no Gulag ─ e não um acidente da história.” E especularam ao longo da discussão: O eurocomunismo é “ambíguo” e as experiências social-democraticas das nações escandinavas “insatisfatórias.” Herdaram do Gramsci que criticavam, algumas idéias a exemplo do ensinamento de que um partido, para chegar ao poder, precisa, antes, assenhorear-se da cultura, admitir muitos intelectuais em suas fileiras, procurar sempre novas soluções. “Praticamente romperam com Marx e Lênin, rejeitando o princípio da ditadura do proletariado como absolutamente inaceitável. Para os socialistas o comunismo seria visceralmente totalitário, incompatível com a sua conduta democrática.”
        Os comunistas reagiram: “Debates ideológicos não saem do campo da abstração”, rebateu Berlinguer; Craxi devolveu: “Pode-se muito bem ser socialista sem ser marxista.” Percebe-se claramente a veemência das posi-ções. Mais adiante Luciano Cafagna alegava que Marx foi traído por Lênin: “A classe operária, base da revolução soviética, nunca assumiu o poder. O partido tomou o seu lugar, uma minoria organizada. Na URSS nem chegou a haver uma ditadura do proletariado, mas uma ditadura do partido sobre o proletariado.”  E o alemào  Rudi Dutschke completava: “Os soviéticos ainda confundem socialismno com estatização. E se esquecem de coisas muito mais importantes, como a liberdade e a democracia”
        O ineditorialista GM da revista “Isto É” advertia em tom profético: “Por enquanto, a polêmica é retórica. Não tenham dúvidas, porém, que logo se tornará  muito prática.”

..........Segue no próximo comentário da semana.................




[1] BOBBIO, Norberto in  “QUAL SOCIALISMO ─ Discussão de uma  Alernativa”  Ediora Paz e Terra, 1983, esclarece e acrescenta: “A sua ilusão era a de que se pudesse evitar o problema de como se governa jogando tudo sobre quem governa:  dos poucos burgueses às massas proletárias”... ë o uso antimarxista de Marx, que consiste na pretensão de poder encontrar nos textos de Marx, resposta para todos os problemas atuais, culturais e políticos, , como se pudesse Marx, com um século de antecedência, adivinhar, literalmente, o desfecho de tudo, como se o marxismo pudesse ser reduzido a um maleável  passe-partout”
.
[2] E mais citações, todas da  Revista  “ ISTO É” 06 /12 / 1978,  pag. 34...

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