segunda-feira, 11 de maio de 2015

HILDEBERTO



PREZADO HILDEBERTO,
Depois de ler a sua poesia, as análises de sua critica literária, e de percorrer as veredas de suas crônicas na midia eletrônica, favorece-me o marxismo, fundamentando no método do materialismo histórico, inapelavelmente, a explicação do comportamento, diria da vida do homem na sociedade. Estranho? Não me parece.
Gosto de sua literatura: poesia, crítica, prosa em geral. Do melhor nível no país, no meu modesto julgamento. Na mundividência, talvez, está a nossa possível discordância. Mas detalhes somente, que as invalidam, talvez, reciprocamente.
Gosto da sua geo-literatura, inegavelmente fruto da sua vinda ao mundo, num lugar montanhoso de plantas e de rochas graníticas de abstrusas formas, acontecidas nos momentos precisos que se formam as substâncias orgânicas e minerais, e da superestrutura jurídica e ideológica da sociedade organizada como conhecemos, onde você viveu. Tal não acontece com todos, assumindo o fato, entretanto, no seu caso, os fetiches da mitologia cósmica, laboratorial, o contraponto de suas letras.  
Você não é um poeta somente, por lidar com as palavras, como asseverou alhures. O é pela emoção, quando a revela. Escritor, arma-se com a inteligência cultivada, para a guerra da vida, com o artefato e o artifício da linguagem para enfrentar a morte, não para viver a vida que pouco importa, a morte não.
No prejuízo e no lucro, estão os arquétipos da vida em geral, desde as regras sintáticas da linguagem às questões biogenéticas dos seres vivos, a cristalografia mineral. Uma dura contabilidade, a con-tragosto. É a minha ciência da vida e do ser. Mas estas noções bastam para alegrar-me com os sucessos de uns, lamentar os equívocos de outros. Inclusive os meus.
Assevero sem medo de errar, que a minha visão da vida e do mundo  recolhi-a na observação, na aferição de status, dada a minha vivência social, permitindo-me a leitura e o entendimento do estro de Augusto dos Anjos. Nada de esoterismo, de gnose. Mas das atividades tendentes a criar as condições indispensáveis à existência organizada da matéria e da sociedade, e, particularmente, na atividade concreta da produção e da prática humana.
A realização acadêmica de ajuizamentos, não escapa à regra do “Senhor Mercado” que tudo transforma em objeto de comercialização: o Prêmio, o Emprego, a Titularidade.”
            Escrevi para Evandro da Nóbrega:
“Augusto do Pau d’Arco, não era de tergiversação, porque o seu raciocínio alcançava a essência das coisas, moldadas em palavras de-finitivamente, no seu audacíssimo pensamento. E transformava-o em algo profundo, grandioso na explicação dos fatos e fenômenos que constituem a existência, o cosmo:  
Eu, filho do carbono e do amoníaco...”
Não precisava dizer mais. Neste verso descobrimos a matriz cósmica da sua mundividência. Ele não criou modelos nem caminhos. Retratar a vida na plenitude lírica da emoção, de sentimentos entre-vistos na realidade físico-química, explicitados na concreção da lin-guagem científica e filosoficamente mostrada em versos, foi o que ele fez. Algo intuitivamente empolgante e filosófico como os poemas de João Cabral de Melo Neto, duros e fortes tal pancadas de marreta partindo um lajeiro, produzindo paralelepípedos, relatando o trabalho, a fuga do migrante sertanejo sem terra, sem emprego na sua jornada como as águas para o mar, e finalmente o encontro com o hidrópico vivente do manguezal.
 Na minha limitação intelectual, confesso, e concluo que o fracasso final de modelos e sistemas políticos construídos, culminando entre nós, deve-se a atropelada confusão na leitura pelos acadêmicos petistas da sociologia ambulatorial-trabalhista de Josué de Castro, para explicarem textos afins, para criação acadêmica de sovietes, meros factoides, encarregados de emitirem conceitos e normas disciplinado-ras de todas as atividades artísticas. Uma paisagem humana vista e antevista.
O domínio da cena pela “esperteza” capitalista, na conceituação e qualificação de temas e modos de realização literária, dá lugar ao surgimento de uma profusão de teses, incompatíveis na minha con-cepção, para explicação do fenômeno artístico. Impenitente como personagens do meu romance “A Invasão das Cobras”, advertidos por você, sigo em frente com o meu entendimento, sem desdouro a ninguém.
Com a admiração de sempre.

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