PREZADO HILDEBERTO,
Depois de ler a sua poesia, as
análises de sua critica literária, e de percorrer as veredas de suas crônicas
na midia eletrônica, favorece-me o marxismo, fundamentando no método do
materialismo histórico, inapelavelmente, a explicação do comportamento, diria da
vida do homem na sociedade. Estranho? Não me parece.
Gosto de sua literatura: poesia,
crítica, prosa em geral. Do melhor nível no país, no meu modesto julgamento. Na
mundividência, talvez, está a nossa possível discordância. Mas detalhes
somente, que as invalidam, talvez, reciprocamente.
Gosto da sua geo-literatura, inegavelmente
fruto da sua vinda ao mundo, num lugar montanhoso de plantas e de rochas
graníticas de abstrusas formas, acontecidas nos momentos precisos que se formam
as substâncias orgânicas e minerais, e da superestrutura jurídica e ideológica
da sociedade organizada como conhecemos, onde você viveu. Tal não acontece com
todos, assumindo o fato, entretanto, no seu caso, os fetiches da mitologia
cósmica, laboratorial, o contraponto de suas letras.
Você não é um poeta somente, por
lidar com as palavras, como asseverou alhures. O é pela emoção, quando a revela.
Escritor, arma-se com a inteligência cultivada, para a guerra da vida, com o
artefato e o artifício da linguagem para enfrentar a morte, não para viver a
vida que pouco importa, a morte não.
No prejuízo e no lucro, estão os
arquétipos da vida em geral, desde as regras sintáticas da linguagem às
questões biogenéticas dos seres vivos, a cristalografia mineral. Uma dura
contabilidade, a con-tragosto. É a minha ciência da vida e do ser. Mas estas
noções bastam para alegrar-me com os sucessos de uns, lamentar os equívocos de
outros. Inclusive os meus.
Assevero
sem medo de errar, que a minha visão da vida e do mundo recolhi-a na
observação, na aferição de status, dada a minha vivência social, permitindo-me
a leitura e o entendimento do estro de Augusto dos Anjos. Nada de esoterismo,
de gnose. Mas das atividades tendentes a criar as condições indispensáveis à
existência organizada da matéria e da sociedade, e, particularmente, na
atividade concreta da produção e da prática humana.
A
realização acadêmica de ajuizamentos, não escapa à regra do “Senhor Mercado”
que tudo transforma em objeto de comercialização: o Prêmio, o Emprego, a Titularidade.”
Escrevi
para Evandro da Nóbrega:
“Augusto
do Pau d’Arco, não era de tergiversação, porque o seu raciocínio alcançava a
essência das coisas, moldadas em palavras de-finitivamente, no seu audacíssimo
pensamento. E transformava-o em algo profundo, grandioso na explicação dos
fatos e fenômenos que constituem a existência, o cosmo:
“Eu, filho
do carbono e do amoníaco...”
Não
precisava dizer mais. Neste verso descobrimos a matriz cósmica da sua
mundividência. Ele não criou modelos nem caminhos. Retratar a vida na plenitude
lírica da emoção, de sentimentos entre-vistos na realidade físico-química,
explicitados na concreção da lin-guagem científica e filosoficamente mostrada
em versos, foi o que ele fez. Algo intuitivamente empolgante e filosófico como
os poemas de João Cabral de Melo Neto, duros e fortes tal pancadas de marreta
partindo um lajeiro, produzindo paralelepípedos, relatando o trabalho, a fuga do
migrante sertanejo sem terra, sem emprego na sua jornada como as águas para o
mar, e finalmente o encontro com o hidrópico vivente do manguezal.
Na minha limitação intelectual, confesso, e concluo
que o fracasso final de modelos e sistemas políticos construídos, culminando
entre nós, deve-se a atropelada confusão na leitura pelos acadêmicos petistas da
sociologia ambulatorial-trabalhista de Josué de Castro, para explicarem textos
afins, para criação acadêmica de sovietes, meros factoides, encarregados de
emitirem conceitos e normas disciplinado-ras de todas as atividades artísticas.
Uma paisagem humana vista e antevista.
O
domínio da cena pela “esperteza” capitalista, na conceituação e qualificação de
temas e modos de realização literária, dá lugar ao surgimento de uma profusão
de teses, incompatíveis na minha con-cepção, para explicação do fenômeno
artístico. Impenitente como personagens do meu romance “A Invasão das Cobras”,
advertidos por você, sigo em frente com o meu entendimento,
sem desdouro a ninguém.
Com a
admiração de sempre.
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